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Mostrando postagens de janeiro, 2006

Os discos que competiam pelo cume - de Jorge Ben e Chico Buarque

“E como já dizia Jorge Maravilha, prenhe de razão, mais vale uma filha na mão, do que dois pais voando”. Desculpe o exagero... mas se fosse pra se eleger o melhor disco já feito nesse país tabaréu que é o Brasil, digo, seria um chamado A Tábua de Esmeraldas (1972), de uma criatura chamada Jorge Menezes. Não existe nada comparado a esse disco em alturas psicodélicas, ou em cadências de samba. Duas coisas, ou dois mundos aparentemente irreconciliáveis. Jorge Ben saía da mistura maluca feita em discos anteriores, como o Samba Esquema Novo (1963), Ben (1972), Negro é Lindo (1971), ou o Bidú e o Brooklin (1967)... Aquele desconhecido chegava pra se colocar como um dos mais importantes e influentes músicos de sua geração, com seus erros perfeitos e batidas envolventes sentimentalmente. O início do disco já nos coloca na sala – tem que dançar, dançando. Se Chico Buarque, que fez o disco que compete pau a pau com o do Jorge, com seu Construção , se Chico tivesse um tino de malandro, e não atu

Ensaio sobre o entendimento

Desde Hume à Marquês de Sade. Não se entende sem perceber. Hume categorizou o entendimento - e acho ele mais filósofo que Kant - e talvez até mesmo Kant achasse isso. Sade fez da arte sua obsessão, apenas pra violentar a falsidade da nobreza limpa, benevolente. Hume diria que não se pensa sem entender, já que na empiria nada poderia "ser" se não podemos perceber. Aí está o nó da questão: não se entende sem se saber entender. Posso dizer então que o saber é algo mais importante que o entender - e que Sade era sim um sábio. Todos o entendiam, porque todos o rejeitavam. Não se rejeita aquilo que não se entende - a não ser que passe pelo nosso crivo, por critérios morais( no fundo) e lógicos ( na superfície) que ficam rondando em nossa cabeça. Sade exprimia, o espectador entendia, e logo rejeitava. Há quem diga que se rejeita o que não se entende. Discordo completamente. Aquilo que não se entende completamente é sedutor, é sublime, é chamativo. Se sentimos ojeriza por algo é pre

Um cão... e uma cidade (um diógenes e uma mulher)

Eu fui um cachorro que chegou na cidade e todos os habitantes me acariciaram porque eu sabia fazer alguns truques e tinha um olhar bem sublime e diferente de outros que tinham passado pelas ruas da província. Os truques serviram pra ganhar habitação por um tempo mas nem deu pra sentir todos os cheiros de todas as casas pois umas estavam fechadas e só se via as fachadas. A cidade era nova, e as moradoras bem espontâneas – dançarinas e dionisíacas, outras calmas e pacatas. A cidade me abrigou por um tempo pra saber quem era esse cão que um dia tinha sido uma pessoa, e porque ele não mais é uma pessoa. A cidade queria saber no início se eu era cão porque queria ou se era assim mesmo – depois enjoou. Açoitou o cachorro e disse: quero coisa melhor, chutando o bicho parasita pra fora querendo limpar suas ruas do pulguento. A cidade, como toda provinciana, era pacata – mas só vista por satélite. A libido era exalada nas calçadas, nas luzes amarelas que cheiravam a fumaça nas noites em penumbr
Esse troço aí em baixo saiu depois de eu ter ficado 2 horas numa fila de uma Clínica aqui em Aracaju chamada Diagnose, ouvindo uma guria gritando de estress. E estressando, por seu calundu. Quando entrei na sala do Clínico Geral ele me vem dizer que não conhece bem sobre o assunto que eu tô falando, minhas coisas... então me passou pra um Reumatologista, que, segundo ele, é um pesquisador - entende muito do assunto. Resultado geral: passei 10 minutos no máximo falando de minhas dores na perna, e o Doutor se explicando porque não entende do meu assunto - nas horas vagas dele olhar para o celular e atender telefonemas e escrever bilhetes pra o tio que tá chegando... R$ 33,30 na conta.
Brasil é uma criancinha chorando. Na fila do hospital no ônibus no ponto de ônibus no vizinho, no quarto perto do seu num quarto dentro de sua casa No aniversário de quem quer que seja da própria criança, inclusive nas festas com cervejas no shopping nas filas no banheiro nos lugares mais silenciosos... O Brasil é uma criança chorando que odeia tudo e quer sair de onde está quer que a mãe a leve pra outro lugar quer gofar, rindo quer mamar quer enjoar todo mundo em volta Chorando alto, estridente aprendendo a ser gente que grita sem pudor e vive sem pudor, na verdade o Brasil é uma criança chorona que procura tirar de seu corpo a dor do impotente.
Mustapha Khayati O desvio (détournement), que Lautréamont chamava plágio, confirma a tese, afirmada desde faz muito tempo pela arte moderna, da insubmissão das palavras, da impossibilidade para o poder de recuperar totalmente os sentidos criados, de fixar de uma vez por todas o sentido existente, isto é, a impossibilidade objetiva de uma "novlingua". A nova teoria revolucionária não pode avançar sem uma redefinição dos principais conceitos que a sustém. "As idéias melhoram", disse Lautréamont , "o sentido das palavras participam disso. O plágio é necessário: o progresso o implica. Achega-se da frase de um autor, se serve de suas expressões, elimina uma idéia falsa, a substitui por uma idéia justa." Para salvar o pensamento de Marx, deve-se sempre que necessário, corrigi-lo, reformulá-lo à luz de cem anos de fortalecimento da alienação e das possibilidades de sua negação. Marx precisa ser desviado (détourné) pelos que continuam esta linha histórica, e não s
quem vive sem ter egoísmo? Até mesmo o mais agudo socialista tem a completa certeza de que está certo - por puro egoísmo. É bom saber disso pra mudar isso, como mudamos o design de um carro, por exemplo, e o fazemos andar mais rápido do que nunca, mais seguro do que nunca, e mais bonito do que nunca, ao mesmo tempo.

STJ manda soltar acusado de matar por comentário no Orkut.

Brasília (DF) - Por falta de fundamentação no decreto de prisão, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas-corpus a Luiz Jorge Júnior, denunciado pelo assassinato de João Carlos Duarte Paiva Arantes, em Ribeirão Preto, que teria sido motivado por mensagem postada na internet, no site de relacionamentos Orkut. O relator do habeas-corpus, ministro Paulo Gallotti, presidente da Sexta Turma, destacou que o próprio Ministério Público Federal deu parecer favorável à liberdade do preso. (...)O decreto de prisão narra que o crime em questão teria afetado visivelmente a opinião pública da sociedade local, conforme noticiário da imprensa. O ministro Galloti entendeu que o decreto não demonstrou a necessidade de custódia de Luiz Jorge Júnior. Para o relator, é preciso objetividade na indicação dos elementos concretos para evidenciar que, solto, o réu poderá causar risco à garantia da ordem pública ou econômica, à instrução criminal ou que poderá frustrar aplicação da

Skip James subverte a nossa decomposição - compondo

Quando o Câncer chegou a seu corpo, Skip James já estava morto há tempos. Um gênio sábio da música norte americana, de um blues sem resquícios de inícios. Batia nas cordas e chamava pelo diabo, já que deus fechava os olhos para seu amor à vida. O demônio, o das encruzilhadas logo adiante alguns anos à frente. Você deve saber, de vez em quando, que a vida é pouco. Deve-se fazer mais que isso, que viver. Além de saber disso, há algo em todo mundo (suponho com meu ar pequeno burguês antropológico) que incita a vida, que nos propõe agir. Seria... Seria a morte? Quem duvidar que vai morrer, levante a mão. Seja pra agradecer ao justiceiro eterno, ou ao pai militar fascista. Vire a face e veja: há sim algo mais que a vida, mas não digo além dela. Skip James ultrapassou qualquer idéia de übermensch de aristocratas como Nietzsche. Skip James provou matematicamente – afinal, a música é matemática, que um ser oprimido ao extremo em seu trabalho infinito, escravo, absurdo, seu trabalho servil – re

Freud e o interior da superfície

Esta obra do sobrinho do criador da psicanálise, e, um dos mais aclamados pintores atualmente – o Lucian Freud, mostra Kate Moss, grávida, deitada. Não se sabe mesmo se é a modelo que está como objeto na obra. Mas se sabe que o Lucian tem admiração pela modelo, e que talvez eles tenham um caso. Fato é: o quadro se tornou o mais famoso de Lucian desde a pintura da Rainha Elizabeth. Este último quadro fez a rainha levantar de seu trono e dar suas já conhecidas reclamações mediante “súditos”. Kate Moss já foi alertada pela sociedade bretã: não use mais drogas – diziam até que ela era traficante. Entre boatos, fofocas, coisas dessas revistas baratas e sem conteúdo nenhum, Kate Moss é hoje uma famosa drogada só por uma foto dela cheirando cocaína ter saído num jornal. Lucian Freud usa uma modelo, uma manequim, não sei como classificar direito essas moças que não são nada além de corpo... Ele usa uma pessoa reificada ao extremo pra nos mostrar o humano. Seria como se existisse, e existe, um