Pular para o conteúdo principal

Belle Toujours - Manoel de Oliveira - 2006

Bella Sempre foi, segundo conta logo ao início do filme, feito para o roteirista Jean Claude Carriére e para o mestre Luis Buñuel. Ao que parece, coisas absurdas acontecerem ao longo de um drama cotidiano não é algo irrecusável em uma narrativa - pelo contrário. A constancia faz com que o espectador quase morra de tanto tédio, e o susto nos traz a vida novamente.

Manoel de Oliveira, um dos mais atuantes e irônicos diretores da contemporaneidade, faz sua homenagem a esse caráter onírico do cinema surreal em Buñuel. Este era bem mais corrosivo, óbvio - ser competente hoje e andar na linha do meio da estrada. Mas é isso - a linha do meio não leva a lugar algum: nem à mão, nem à contra-mão. Na homenagem à Bela da tarde (Belle de jour, 1967, Luis Buñuel), Manoel usa de uma nostalgia cinéfila para, de uma maneira cinéfila, homenagear.

Nada de mais nessa redundância. Nada demais também no filme. A não ser a exímia competência de Manoel se confirmar, ainda , como um autor de filmes que podemos chamar de "cinema". As mesmas pontuações, as mesmas triangulações na trama. Os mesmos diálogos constantes, que mostam uma europa elegíaca, nobre, aristocrática, cheia de méritos estéticos que são esquecidos pela pragmática.

Mas entendamos: a popularidade de um Buñuel e sua crítica subversiva ao charme da burguesia se perde na frívola brincadeira do burguês sádico de hoje em dia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

Guerra Conjugal - Joaquim Pedro de Andrade - 1975

Joaquim Pedro teve sempre que ser muito tímido para que sua imposição artística não tivesse presença autoral , como no amigo que ele sempre admirou, Glauber. Em uma comédia de costumes da classe média brasileira, só reatando as pazes com Nelson Rodrigues, mas ao jeito de Dalton Trevisan - exagerando no pessimismo, domesticando os planos em uma falta de sincronia entre o mundo velho e o mundo novo. Não só Joaquim Pedro seguiu, trilhou, abriu esse caminho no cinema novo, mas principalmente Arnaldo Jabôr, onde o drama de costumes chegou a seu ápice em uma agudez sátira. A briga é com o uso do melodrama com fins absolutos de mercado, e com o sentimento carioca meio bobo, de que há romantismo de folhetim em vida. O brega forte desse popular exagerado demonstra o que o avanço econômico nos proporciona, na mídia. Nesse ambiente de cultura de massa dominante surge o filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro. A mediocridade e decadência chegam a doer de tanta verossimilhança, nesse filme. É um re...

A Última Floresta - Luis Bolognesi e Davi Kopenawa

A imersão de Bolognesi nos temas indígenas, em seus últimos filmes, demonstra que quando o cinema dá atenção a isso, algo se revela. Parece ser um caminho sem volta. Uma estrada sem fim. Mostrar, em imagem, os temas indígenas, tem força de revelação, sim - mas também de reativação com discussões antigas. O que faz aquele que se chama de "indígena" um caso particular. Não se fala de uma humanidade, de um humanismo nos termos que antes das colonizações de falou. Estamos diante de uma questão, um dia chamada "indígena". Estamos diante, portanto, de algumas questões que envolvem afetos e sentimentos que nos forjam como pessoas ligadas ao subjetivo indiretamente violentado e assassinado pelo contato interétnico das interiorizações do país. Davi Kopenawa tem sido um dos maiores lutadores, desde os conflitos com garimpeiros nos tempos de Serra Pelada, e também, como não dizer, na briga que ainda se vale de gritos e falsas informações sobre as terras yanomami entre Roraima ...