Pular para o conteúdo principal

As estatuas paradas não fazem mal a ninguém que tenha medo delas. Afinal de contas, o medo é algo subjetivo – e fica relativo na medida que você se aproxima dele. Ele existe fora da gente, ele que nos faz mover para longe de lugares quentes demais, ou frios demais – ele que nos faz andar em linha reta.

Já acabei de falar na linha que seguimos via conclusão da vida; uma vida ambiciosa, que quer realmente passar sem parar por entre arames e pedras. No mais a concentração de forças se dá por uma meta. Meta contra o medo. Contra a sua vida trágica – sua vida de ser humano isolado do mundo. Porque eu te garanto você é isolado. E é mais ainda: é apartamentado.

Acho que é uma ilusão achar que se está fragmentado. Porque todas as suas possibilidades estão sendo canalizadas por vias que são absolutamente convergentes logo ali no futuro. São estradas que se coligam e vão até o fim da eleição – que acaba sempre nos votos a um só candidato. Não passa de um teatro mal feito de improvisações, mas têm muito poucos episódios. Quem sabe de que se faz essa sua divisão em partes que não se consegue medir?

Você, enfim, mora em um só lugar. Não consegue ter mais de um amante, e dificilmente trabalha em dois locais diferentes. Sem análises pessoais, aqui não se trata de uma sala arejada: diga pra mim, onde você está nesse momento? Acha que é porque você é inteligente e consegue ler mais que um período junto (nunca se enquadrou no grupo dos analfabetos funcionais do Brasil)? Não senhor(a). Você merece saber que de trinta pessoas que nascem como você nascem mais ou menos 27 que vão ter a sua mesma feição e composição de personagem. Mas, sendo que você, por agora, tem sabido ler na tela alguns parágrafos à mais que em livros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

Guerra Conjugal - Joaquim Pedro de Andrade - 1975

Joaquim Pedro teve sempre que ser muito tímido para que sua imposição artística não tivesse presença autoral , como no amigo que ele sempre admirou, Glauber. Em uma comédia de costumes da classe média brasileira, só reatando as pazes com Nelson Rodrigues, mas ao jeito de Dalton Trevisan - exagerando no pessimismo, domesticando os planos em uma falta de sincronia entre o mundo velho e o mundo novo. Não só Joaquim Pedro seguiu, trilhou, abriu esse caminho no cinema novo, mas principalmente Arnaldo Jabôr, onde o drama de costumes chegou a seu ápice em uma agudez sátira. A briga é com o uso do melodrama com fins absolutos de mercado, e com o sentimento carioca meio bobo, de que há romantismo de folhetim em vida. O brega forte desse popular exagerado demonstra o que o avanço econômico nos proporciona, na mídia. Nesse ambiente de cultura de massa dominante surge o filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro. A mediocridade e decadência chegam a doer de tanta verossimilhança, nesse filme. É um re...

A Última Floresta - Luis Bolognesi e Davi Kopenawa

A imersão de Bolognesi nos temas indígenas, em seus últimos filmes, demonstra que quando o cinema dá atenção a isso, algo se revela. Parece ser um caminho sem volta. Uma estrada sem fim. Mostrar, em imagem, os temas indígenas, tem força de revelação, sim - mas também de reativação com discussões antigas. O que faz aquele que se chama de "indígena" um caso particular. Não se fala de uma humanidade, de um humanismo nos termos que antes das colonizações de falou. Estamos diante de uma questão, um dia chamada "indígena". Estamos diante, portanto, de algumas questões que envolvem afetos e sentimentos que nos forjam como pessoas ligadas ao subjetivo indiretamente violentado e assassinado pelo contato interétnico das interiorizações do país. Davi Kopenawa tem sido um dos maiores lutadores, desde os conflitos com garimpeiros nos tempos de Serra Pelada, e também, como não dizer, na briga que ainda se vale de gritos e falsas informações sobre as terras yanomami entre Roraima ...