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Àqueles que adoram Wittgenstein

Este filósofo, desculpem-me vocês que o adoram, era contra a liberdade de criação. O pensamento dele nasceu na science e morreu nela, apesar de ter se nivelado à linguagem mais popular. A genialidade dele, aliás, foi de ter conseguido tirar o sacerdócio de cientistas-filósofos que sabiam de tudo - toda a história da filosofia, e todas as formas de se pensar.

No entanto, convenhamos, Wittgenstein se guia por esquemas, formas, modelos. Certo é que todo o pensamento como conhecemos é estruturado dessa maneira - mas ele não é criado assim. A criação ultrapassa as retas e grades de regras ou regimentos filosóficos. As normas, mesmo sendo linguísticamente postas à prova mediante proposições, elas são esquemas dentro de grades e muros do saber.

Conhecimento pode sim ser palpável através de exemplos e imagens. Não somente simbólicas, como sempre se falou, mas também alegóricas. A mímese ainda existe mesmo em dissertações, declarações, discursos. As imagens provocam pensamentos novos. Criações.

Bem... seja isso uma proposição ou não, estamos em um debate initeligível dentro do campo científico?

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