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Rebecca - Alfred Hitchcock - 1940

Duas coisas pra se grifar nesse filme de Alfred Hitchcock. A primeira é que ficamos sem saber o nome da personagem principal de Rebecca. A segunda é que há uma outra personagem que não põe as caras na película, e é quem dá sentido a toda a trama: a finada sra. De Winter, Rebecca.

Foi o primeiro de muitos filmes ímpares do diretor inglês nos EUA, e talvez já aquele que mostra o grande fôlego narrativo do chamado mestre do suspense. Hitchcock é talvez insuperável até hoje pela sua capacidade de manipular de uma maneira impressionante todos os climas de seus filmes. Qualquer espectador mediano se sente entediado em um filme mal narrado - não sentimos isso nos filmes de Hitchcock, já que há uma mudança brusca de geografias e personagens, nos seus filmes mais conhecidos.

Em Rebecca a personagem principal é extremamente cativante por ter vindo de classe pobre, de um emprego humilhante de "companheira" de dondoca aristocrata para esposa de um dos mais conhecidos nobres da inglaterra, dono de Manderlay - castelo e propriedade antiga e tradicional. Conhecemos Manderlay também por ter reaparecido no filme de Lars Von Trier, como um latifúndio norte americano. O que é implicante é que ela não se adapta ao universo milionário-tradicional até que ela saiba que é realmente amada por Sr. De Winter, o Maximum, interpretado por Lawrence Olivier. No entanto, uma criada repudia fortemente a ingenuidade, a pobreza da garota. Um repúdio de todo o passado petulante e arrogante, do tempo em que Rebecca ainda vivia do castelo - nunca uma menina pobre poderia ser dona daquela propriedade.

No conflito onde ser aceito ou não ser aceito na aristocracia é de maior impotância, há sempre aquele drama mais explícito de filmes hollywoodianos - que é o amor proibido, ou não compreendido pela sociedade. Somente o velho Hitch pra enfrentar esses moldes industriais com muita ironia.

Comentários

tem uma análise feita sobre o filme rebecca, no livro, ensaio de uma análise fílmica, achei o ensaio minuncioso e bom, embora não tenha sido muito inovador. o autor análise cronometricamente, quadro a quadro (aquelas coisas..)
até!
la cumpadrita

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