A exposição de tempos diferentes em frente à câmera nos deixa ou perplexos, ou admirados. Essa última opção, a contemplação das coisas, desde a busca pela fotogenia de Jean Epstein o cinema adotou como parâmetro. Não é só um critério para um belo filme, mas para uma boa sugestão para movimentar a vida.
Alguns cineastas captam uma beleza contemporânea na violência. Não é o caso de Claire Denis. Mesmo a temática sendo, talvez, a violência e perversão atual, a diretora veste essa digressão com cuidado. Não se trata só dela ser sensível, ter sensibilidade nos cortes e nas cores. Trata-se de levar ao écran uma dose pequena de uma realidade que pulsa, mas ninguém quer perceber.
Ninguém percebe porque vivemos num mar de rosas infantil, no qual a mídia impera com imagens bonitinhas e ritmos de parque de diversão. Na qual a força maior é fazer rir das palhaçadas, ou dos absurdos do espetáculo, show de nossos aproximadamente 80 anos de vida. Lembremos de um Alfred Jarry, um dos mais esquisitos cronistas, ao mesmo tempo dramaturgos que já passaram pela terra - ele mesmo já falava da antropofagia como estética.
No filme Trouble Every Day não sentimos o experimentalismo maneirista de Irreversível. A influência não é dos Yankees, mas do extremo oriente. Tal como fazem Jim Jarmusch, Gus Van Sant, e talvez um David Lynch. É difícil captar o ritmo de uma hiper modernidade sem se remeter à experienciação oriental. E Denis, mais do que uma adulta no cinema, é extremamente criteriosa ao se expressar. Peguemos o herói do filme, Vicente Gallo, interpretando o Shane... Ironia ao nos fazer identificar com um salvador que vem das américas, recém casado, próspero, que acaba purgando o espectador do mal - mas é também ele um demônio "doente".
É só vermos o filme com a calma que ele nos proporciona que entramos em sua sutileza irônica. Essa tal "doença" é absolutamente inverossímil, ao mesmo tempo comovedora. Tal é o poder do audiovisual em manipular nossos cérebros com pinças.
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abraço