Pular para o conteúdo principal

Lady in the water - 2006 - M. Night Shyamalan

Há algumas décadas o Warner Brothers, estúdio, produzia filmes para um público pré-adolescente, daqueles que víamos na sessão da tarde. Entretenimento puro. O interessante é que Shyamalan sai do Touchstone's para continuar a brincadeira no Warner e mantém sua autoria. Mas a brincadeira agora se infantiliza demais.

Sim, o filme Lady in the water é infantil. A proposta, inclusive, é ser infantil, como a maioria das produções atuais de Hollywood. Até mesmo Star Wars é menos ingênuo que filmes como os de Wes Anderson e de Shyamalan contemporâneos. O mundo das histórias do conto de fadas contra a crueza do mundo real que deprime os mais atenciosos. A proposta é dormir, logo após o conto, tal como as filhas do diretor.

Ele parece sofrer de uma crise criativa - crise essa que dá energias para que ele apareça no filme como um personagem em busca de uma saída simbólica para o que anda acontecendo com a cena cultural. O mundo será invadido por água, e devemos aprender a nadar para não afundarmos como uma pedra, tal como na música de Bob Dylan, The Times They Are A-Changin'.

A crítica não tem chegado perto da produção atualmente. Vemos no filme que o personagem crítico do filme além de errar na profecia, acaba atrapalhando a retomada, a cura da história. Quem, além dos próprios personagens, sem interferência do mundo exterior, pode resolver os mistérios da trama? O primeiro erro do filme (que é bom, ele desperta a magia perdida do cinema): a TV mostra guerras, mas o terror é visto numa fábula.

E Shyamalan tenta ser profético - tal como os escritores e críticos. Alguma criança pode assistir ao filme, diz ele em seu personagem, e mudar efetvamente algo. Tudo bem, se o filme comunica ao público infantil. Mas ele não se decide entre o erotismo e a ingenuidade da personagem story. Como sempre, usa o corpo da atriz Bryce Dallas, sem mostrá-lo, apenas como um objeto bonito. Estratégia publicitária de um novo diretor que se impõe como autor, e tenta pegar as influências do extremo oriente. Infelizmente para sua criatividade, mas não para seu bolso, ele vive nos EUA, trabalha para uma indústria da publicidade de sonhos. Aí a brincadeira fica sem graça.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

Guerra Conjugal - Joaquim Pedro de Andrade - 1975

Joaquim Pedro teve sempre que ser muito tímido para que sua imposição artística não tivesse presença autoral , como no amigo que ele sempre admirou, Glauber. Em uma comédia de costumes da classe média brasileira, só reatando as pazes com Nelson Rodrigues, mas ao jeito de Dalton Trevisan - exagerando no pessimismo, domesticando os planos em uma falta de sincronia entre o mundo velho e o mundo novo. Não só Joaquim Pedro seguiu, trilhou, abriu esse caminho no cinema novo, mas principalmente Arnaldo Jabôr, onde o drama de costumes chegou a seu ápice em uma agudez sátira. A briga é com o uso do melodrama com fins absolutos de mercado, e com o sentimento carioca meio bobo, de que há romantismo de folhetim em vida. O brega forte desse popular exagerado demonstra o que o avanço econômico nos proporciona, na mídia. Nesse ambiente de cultura de massa dominante surge o filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro. A mediocridade e decadência chegam a doer de tanta verossimilhança, nesse filme. É um re...

Don't Look Up - Não olhe pra cima (2021)

Quem não gostou do filme, em particular da história do filme - do enredo -, é um negacionista. Disso não resta mais nenhuma dúvida. Mas, qual será a ordem desse negacionismo que nos cerca? Esse Bolsonaro-trumpismo influente e tão ameaçador que faria, nessa historinha de filme cômico, as democracias e os próprios democratas (se é que há democratas reais no filme) aderirem ao fim do mundo? Sim, se você não percebeu ainda, os negacionistas pretendem o fim do mundo. Seja de um mundo esférico, por uma defesa do mundo plano, seja de um mundo pleno (com E) e vivido pelas multiplicidades de pessoas diferentes. Esses negacionistas que nos atordoam a toda hora na internet, e que um dia foram chamados de HATERS, hoje estão nas famílias mais democráticas de nossas Américas, são negadores tal como aquela negatividade hegeliana que se travestiu ao longo dos tempos com a terminologia "crítica". Está, portanto, aberta a porta dos infernos, a chamada caixa de Pandora, um baú da infelicidade, ...