Pular para o conteúdo principal

007, publicidade, redenções, etc.

James Bond como aquele galã que nos amava, está velho. Funcionando bem, claro, mas já quase inutilizado. Agente do império atual capitalista, ele é moldado por Sam Mendes, ótimo diretor, numa aventura contra os turcos, chineses, traidores e toda a velha escória que a Europa distingue como os Inimigos terroristas e mafiosos.

Ainda que tenhamos essa aventura politicamente muito incorreta, percebe-se uma autocrítica muito própria ao universo jamesbondiano. É que não há resposta plausível para tanta retaliação, pra tanta investigação titubeante, pra tanta morte nessa guerra contra o terror. Antes eram os comunistas, hoje são os subdesenvolvidos mestiços que ocupam as periferias metropolitanas europeias - haja cofidência nessas aventuras ditas ingênuas. O império contra ataca.

O diretor, conhecido pela falta de misticismo diante desse mundo americanizado, beligerante, middle class farto de possibilidades ingênuas dadas pela propaganda, rende-se ao triunfo do mito inglês. Mito criado por Ian Lancaster Fleming, e continuado pelo cinema britânico. Estamos diante do grande fantasma heroico da modernidade cinematográfica, e rimos de toda essa pretensão bem à moda antiga. Que pretensão essa de ser superior, esse agente imortal fantasmagórico.

Para contribuir, a extraordinária atuação de Javier Bardem, querido pelos americanos, nos faz ficar momentaneamente ao lado da vilania. Ele sim, o personagem vilão, tem carisma. Chega a envolver até James Bond. O mérito do filme são todas as suas atuações - exceto a de Daniel Craig, que chega ao topo do pós-dramático maquinal inconsciente. Seria mérito se fosse consciente.

Excelente filme para se reconhecer que na europa existe também filmes de ação. Também, para identificar-se a competência do real império em fagocitar imagens tarkovskianas, e outras referências a um mundo de ficção científica muito realista em nossos dias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

Guerra Conjugal - Joaquim Pedro de Andrade - 1975

Joaquim Pedro teve sempre que ser muito tímido para que sua imposição artística não tivesse presença autoral , como no amigo que ele sempre admirou, Glauber. Em uma comédia de costumes da classe média brasileira, só reatando as pazes com Nelson Rodrigues, mas ao jeito de Dalton Trevisan - exagerando no pessimismo, domesticando os planos em uma falta de sincronia entre o mundo velho e o mundo novo. Não só Joaquim Pedro seguiu, trilhou, abriu esse caminho no cinema novo, mas principalmente Arnaldo Jabôr, onde o drama de costumes chegou a seu ápice em uma agudez sátira. A briga é com o uso do melodrama com fins absolutos de mercado, e com o sentimento carioca meio bobo, de que há romantismo de folhetim em vida. O brega forte desse popular exagerado demonstra o que o avanço econômico nos proporciona, na mídia. Nesse ambiente de cultura de massa dominante surge o filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro. A mediocridade e decadência chegam a doer de tanta verossimilhança, nesse filme. É um re...

A Última Floresta - Luis Bolognesi e Davi Kopenawa

A imersão de Bolognesi nos temas indígenas, em seus últimos filmes, demonstra que quando o cinema dá atenção a isso, algo se revela. Parece ser um caminho sem volta. Uma estrada sem fim. Mostrar, em imagem, os temas indígenas, tem força de revelação, sim - mas também de reativação com discussões antigas. O que faz aquele que se chama de "indígena" um caso particular. Não se fala de uma humanidade, de um humanismo nos termos que antes das colonizações de falou. Estamos diante de uma questão, um dia chamada "indígena". Estamos diante, portanto, de algumas questões que envolvem afetos e sentimentos que nos forjam como pessoas ligadas ao subjetivo indiretamente violentado e assassinado pelo contato interétnico das interiorizações do país. Davi Kopenawa tem sido um dos maiores lutadores, desde os conflitos com garimpeiros nos tempos de Serra Pelada, e também, como não dizer, na briga que ainda se vale de gritos e falsas informações sobre as terras yanomami entre Roraima ...