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Havia uma época em que a sociedade, a comunidade estava no indivíduo. Era a Grécia antiga. Então habitada por pessoas lesadas, homens que pareciam doentes de tanta lerdeza, de viver falando e somente isso, a Grécia naquele era uma furiosa nação que brigava com ela própria sempre. A morte não era vista como morte, mas como o fim de uma saga, uma luta constante entre pessoas pelo poder. E o poder não era também como nós sabemos hoje. O poder era divino.

Se víssemos como a China ou o Japão se conduz diante de suas divindades talvez chegássemos perto do que a Grécia foi um dia. O mais sagrado no mundo, o que não se fala porque os fenômenos são por si mesmos expressivos são as coisas como conjugadas numa imanência própria que nossa percepção desvela. A tal da imanência que nos dá luz é também a que nos deixa perplexos, e portanto sem atitudes egoístas ou individualistas diante do infinito. Do uno.

Ele, o uno, nos envolve como se quisesse dizer algo - nos induz à ação. Próximo do que os animais gritam, os homens ficam moles e doentes... começam a pensar.

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