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Mostrando postagens de dezembro, 2005

Paul e a inocência de um antigo suburbano

Logo depois de Paul MacCartney ter dito à imprensa que usava, sim, LSD, vinham os Beatles com uma experimentação nunca vista no chamado rock n’roll. Dias de Jimi Hendrix, de Janis Joplin trazendo o blues resgatado pelos acadêmicos que antes era de um grupo, também branco, chamado Grateful Dead. Claro que víamos os ingleses fazerem isso antes com um John Mayal, por exemlpo, com Pink Floyd, Eric Clapton. Não importa – agora era hora de navegar no mar de gramas. Como eu disse, foi o mais mauricinho, embecadinho dos Beatles que disse o que os outros escondiam. Os Beatles, Sirs of England , a banda mais conhecida do mundo, a banda que teve 100% de audiência do Ed Sulivan Show quando foram pela primeira vez aos EUA, os bonitinhos da periferia de Liverpool, sim, usavam drogas. E quem disse isso não podia estar mentindo. Era o que menos aparentava fazer isso, de todos. Porque, me digam, quem não sabia que Ringo Star era um bêbado, no mínimo? E John Lennon, com seus trocadilhos, mais: um ex -
Keith Haring Nosso tempo, sem dúvida . . . prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser. . . O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado. Feuerbach - Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo

Os negros brancos do choro – ensaio sobre o samba classe média

Sinto uma revolta dentro do meu peito... é triste não se ter direito... nem de viver. Disse um dia Orlando Silva cantando. Existiam abismos entre um elegante engomado aristocrata que sorria empinado em seus sapatos lustrados, e um músico mulato pobre de origem incerta que servia de alerta pra uma santa luta de classes. Mas essa luta não existia a não ser no olhar – digo que ela não saiu dos olhares: um de cima pra baixo e outro de baixo pra cima. Mas tudo continuava igual. Mas tudo continua igual. O mundo que condenou um Noel Rosa, que não teve pena de sua classe média baixa, e que falava sempre mal de seu nome, pra muitos anda mudado. Pra quem não conhece o choro, adianto (ou atraso): estou falando dele. Tinha algo de samba, ou seja, dos negros malandros ainda nem tanto traficantes, mas um tanto marginalizados. Era a dança mais esquisita que aparecia no mundo recém globalizado – um “molejo”, um passo “errado”... Pá pá pá... pá pá pá... párara pá pá pá.. pá pá pá, párárá pá pá

INFLAÇÃO

A inflação era cultura. Era também uma cultura, assim como é a economia. A briga que existe entre os economistas e qualquer pessoa que se interesse por cultura é, no mínimo, uma falácia. Falo isso porque nenhuma pessoa por exemplo, é chamada de CULTURALISTA por amar, gostar usar, estudar ou ensinar cultura. Mas, no caso da economia, isso todo mundo sabe, acontece. Muito disso é devido a prepotência, arrogância – ou seja: burrice dos economistas. Por muito tempo eu pensei que os economistas não gostavam de abrir o jogo a respeito destes trâmites, dessas entrelinhas – a ligação entre a cultura e a economia – o discernimento, ao menos. Essa minha hipótese estava quase a ser comprovada, e ela era realmente bastante certa de ser comprovada, visto que no âmbito da economia as entrelinhas, as explicações, os conceitos, até mesmo as palavras entram no jogo capitalista. Resumindo: os conceitos e as compreensões visadas pelos economistas seriam, nessa hipótese, usadas em grupos e capitalizadas c

Da Arte

A finalidade da arte não é agradar. O prazer é aqui um meio; não é neste caso um fim. A finalidade da arte é elevar. Mas não é então a filosofia a arte? Não é também elevar a finalidade da filosofia? É, pois o conhecimento eleva – não pode rebaixar ninguém. Minha definição da finalidade da arte é, portanto, mais ampla, bastante extensa. Melhor considerando, pois, a finalidade da arte é a elevação do homem por meio da beleza. A finalidade da ciência é a elevação do homem por meio da verdade. A finalidade da religião é a elevação do homem por meio do bem. Fernando Pessoa O meu comentário ao gênio idiota acima: Não concordo inteiramente com Fernando Pessoa ao destacar a ciência, arte e religião. Todas buscam o bem, a verdade e a beleza. E, como bem nos falou Nietzsche, ao buscar o bem, o homem pode praticar o mal. Ou em busca da verdade, da beleza. O belo, a propósito, é irmão do bem – um velho discípulo de Sócrates dizia isso... Não concordo com Fernando Pessoa, gênio idiota, inclusi

A vida é feita de pedaços do céu - pobre de quem não teve o seu

Nada sobre a banda, mas digo sobre o som. Tem gente que diz que a Bahia juntou migalhas da música mundial e criou o Tropicalismo ... Vem logo uns anos depois a desritmia do Recife. A década de 70 teve algo de especial, e espacial no ar. Nada se move no front, nem no monte. Ave Gengis Khan – dá a Mutantes o fim subversivo. Ave Sangria . Ave que das cinzas, aliás, da seca, da cerca, do nada, do Sol, do fim do mundo vem algo. Do sangue. Sentimos nossa veia portuguesa em músicas desse disco que você vê aqui do lado na imagem. Em música não existe "se perder". Não se perde música desse jeito. É alma saindo dos instrumentos – da mísera cor amarela do chão do sertão, e um ar tosco que cheira a poeira com distorções baratas. Tem um lindo vocal e uma linda letra, Ave Sangria . Arcoverde levanta hoje o Cordel do Fogo Encantado pra dizer que há sim um Brasil que ninguém entende. Mas à Ave Sangria temos um comentário: Ela pode ser redescoberta hoje. Sabe por quê? Porque passou desaper
carta do funcionário do Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, João Cabral de Melo Neto ao Poeta Carlos Drummond de Andrade , então Vice-Consul de Gustavo Capanema. Difícil ser funcionário Nesta segunda-feira Eu te telefono, Carlos Pedindo conselho Não é lá fora o dia Que me deixa assim, Cinemas avenidas E outros não – fazeres É a dor das coisas, O luto desta mesa; É o regimento proibindo Assovios, versos, flores Eu nunca suspeitaria Tanta roupa preta; Tão pouco essas palavras – Funcionários, sem amor Carlos, há uma máquina Que nunca escreve cartas, Há uma garrafa de tinta Que nunca bebeu álcool E os arquivos, Carlos, As caixas de papéis Túmulos para todos Os tamanhos do meu corpo Não me sinto correto De gravata de cor, E na cabeça uma moça Em forma de lembrança Não encontro a palavra Que diga a esses móveis Se os pudesse encarar... Fazer seu nojo meu... Carlos, essa náusea Como colher a flor? Eu te telefono, Carlos, Pedindo conselho carta enviada em folhas timbradas pe

Por que André Bazin era contra a montagem?

Bazin viajou o mundo em seu pouco tempo em vida. Chegou a criar um jacaré, em sua diversa fauna que tinha em casa – um jacaré do Brasil. Adotou Truffaut não só como pupilo, mas como filho (ver “Os Incompreendidos” de François Truffaut ). Era católico militante, além de ter uma predileção pela esquerda tanto da instituição milenar, quanto da vida política mesmo. O que isso tem a ver com a pergunta, você me retrucaria... A montagem era um exagero do discurso em cinema. Era mais uma retórica desnecessária, imagem de mais e vida de menos. Eram páginas a serem juntadas, ou notas que se complementam – a montagem clássica, como diria André Malraux , deve muito ao corte no cinema. Sem cortes, com o plano seqüência, diria Bazin, nós não vemos então somente cinema – nós vemos a realidade nos falando. Bazin luta para que esta arte de entretenimento ganhe mais força diante de nossa vida, assim como o teatro havia conseguido. Nós sentimos os atores no tablado, porque não sentir na tela? Ao

Apontamentos para uma visão dos filmes de Woody Allen e Charles Chaplin sob a ótica sem a estagnação semiótica

Um personagem como Carlitos, todo vestido ainda à moda da belle époque, com uma bengala e chapéu côco, andando pela rua em busca do nada, só mesmo naquele tempo. Chaplin pega um “vagabundo”, porque bêbado seria demais pra um cinema incipiente, em busca de algo que ninguém sabia. Outro com óculos grandes, inseguro, judeu, que não vive sem cheirar um pouco de psicanálise, transita em nosso mundo mais moderno. Agora é Woody Allen, inclusive abusando das palavras ausentes em Carlitos pra compor a incompreensão de um mundo “em expansão”. Enquanto Chaplin, apesar de não procurar nada com seu personagem vagabundo, era mais seguro no mundo em seu cinismo, Woody Allen, se for seguro alguma vez em seus filmes é com sua insegurança. Os dois possuem um traço em comum, que é uma rejeição dos homens em relação à esquisitice deles – uma das causas da comicidade. Mas Charlot, o dono do mundo, é por causas econômicas e sociais. Ele até que tenta trabalhar no mundo moderno, mas não agüenta, não se enca