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Mostrando postagens de agosto, 2007

A taste of honey - 1961 - Tony Richardson

Josephine é filha de uma mãe solteira que acaba de conhecer um rapaz de classe média alta com o qual pretende se casar. Ela vê como apenas mais um casamento da mãe, e se desencontra com essa "nova família", até porque Jo é muito sensível e ligada a um mundo mais "cigano", tal como as amiguinhas de escola dizem. A partir desse problema familiar vemos também como é que se dá uma adaptação ao sistema tradicional mais conservador - este representado pelo casamento da mãe e pela ojeriza de Jo ao novo marido mais rico. Bem, o filme se desenvolve com esse conflito evidente de classes. Sua mãe, Helen, parece já estar cansada de viver fugindo de casa em casa sem conseguir pagar o aluguel. Já a garota Jo começa sua vida rejeitada pelo recém casal - morando só com um amigo repentino gay vendedor de sapatos, e esperando um filho de um marinheiro negro. Jo, a contestadora infantil, ou, uma qualificação mais branda: a romântica, tem saudades do tempo de criança. A música do filme

THE WILD BLUE YONDER - 2005 - Werner Herzog

O caos do pensar não é, realmente, algo que o pós-modernismo tirou do nada. Como a base frutífera, e criativa também, de nossa movimentação aqui na terra atualmente vem sendo as invenções científicas, os artistas procuram a melhor maneira para se encaixarem na onda inventada. É assim desde que a imprensa existe. E sabemos que o cinema é uma ramificação da imprensa, uma mídia que divulga as inovações, as cores e as texturas das novas perspectivas da técnica. Kubrick que fale por mim, com suas invenções que nos deram o avanço necessário para que tivéssemos, por exemplo, um travelling sem tremeliques e sem trilhos dispendiosos com seu steady cam. Seria então assim para onde corre o rio. As águas levam sempre para o mar do futuro. Não do futurismo, não é estética nem ética - é técnica, já foi dito aqui. A ciência avança, cria, recria, evolui - isso é claro. Mais claro que qualquer pensamento criado por ela própria. Estou vendo-a como um sujeito, ou uma instituição... mas ela é muito mais d

Gadjo Dilo - Tony Gatlif - 1997

Continuando com os bárbaros ciganos e sua não adaptação ao sistema civilizador inventado há tão pouco tempo e tão pouco assimilado por povos como o nosso aqui, do Brasil... Kusturica brinca com esses mafiosos que causam medo às crianças e a qualquer um que chegue mais próximo pelo perigo de ser furtado. Já Tony Gatlif , no filme Extrangeiro Louco faz uma homenagem à sua etnia, a de sua família. Homenagem que começa pela paixão de um francês por uma cantora, Nora, uma inversão das letras do nome de Rona Hartner , a atriz que faz o papel de Sabina. Os dois, junto ao excepcional realismo fantástico que brilhava na figura de Izidor que encontra Stephane na estrada e o leva para a tribo, estão, posso dizer, numa das mais convincentes interpretações do cinema. É um realismo que se aproxima do documentário. Vemos um filme muito apaixonante, muito forte, denso, trágico, porém realista. Uma façanha, já que no realismo só conseguimos reconhecer um melodrama novelesco que mimetiza a realidade.

Crna macka, beli macor - 1998 - Emir Kusturica

Kusturica - em Gato Preto, Gato Branco, pode ser considerado hoje um dos cineastas que permitem que nós, aqui das américas, saibamos o que é realmente a barbárie. O novo mundo, na nova era, não chega perto da história de quiprocós dos ciganos do leste europeu. Tudo bem, somos enrolados, temos uma cultura popular carnavalesca, temos brigas estriônicas e a nossa família ainda é da era clássica antiga. Nosso provicianismo ainda nos segura nessa investida via o caos esdrúxulo. E esse quê grotesco que alguns mais polidos tentam levar às telas tem uma sublimidade ainda não compreendida, mas sentida pelas platéias - as massas. Sim, porque hoje o cinema voltou a ser uma arte das massas, das massas mesmo. Não digo isso com rancor, pelo contrário. As massas hão de dominar o mundo com essa forma caótica de se manifestar - matando em busca de dinheiro, e ressucitando os velhos pater família para que tudo se ordene novamente. Será essa a solução, a do happy end antiquado? Ele , Kusturica, então

The Wild One - László Benedek - 1953

Não é o primeiro filme que, para passar pela censura "natural" do código de hays de Hollywood, houve a necessidade de se colocar letreiros explicativos logo ao início da história, como também acontece em Scarface, de Howard Hawks . " Essa é uma história que lamentavelmente aconteceu num vilarejo dos Estados Unidos, bla bla bla." As cenas que seguem é a de um bando de arruaceiros com motos, que vêm das cidades modernas ( as metrópoles) para causar o caos no interior. O líder do grupo: Jonny, Marlon Brando, um jovem ator do actor's studio , escola meio baziniana de interpretação. Standislavsky é o teórico, na verdade - o espectador deve acreditar que ali está acontecendo um fato, e não uma representação dele. Era inovador na época ver Brando com aquela voz meio, digamos, fina, fazendo-se de revoltado. Um adolescente revoltado que recebe uma lição de moral, tal como James Dean, em Rebel Without a Cause - Juventude Transviada, de Nicholas Ray . O mais importante d

Lady in the water - 2006 - M. Night Shyamalan

Há algumas décadas o Warner Brothers, estúdio, produzia filmes para um público pré-adolescente, daqueles que víamos na sessão da tarde. Entretenimento puro. O interessante é que Shyamalan sai do Touchstone's para continuar a brincadeira no Warner e mantém sua autoria. Mas a brincadeira agora se infantiliza demais. Sim, o filme Lady in the water é infantil. A proposta, inclusive, é ser infantil, como a maioria das produções atuais de Hollywood. Até mesmo Star Wars é menos ingênuo que filmes como os de Wes Anderson e de Shyamalan contemporâneos . O mundo das histórias do conto de fadas contra a crueza do mundo real que deprime os mais atenciosos. A proposta é dormir, logo após o conto, tal como as filhas do diretor. Ele parece sofrer de uma crise criativa - crise essa que dá energias para que ele apareça no filme como um personagem em busca de uma saída simbólica para o que anda acontecendo com a cena cultural. O mundo será invadido por água, e devemos aprender a nadar para não afun
Beleza e Crumb O underground necessitava, óbvio, de uma imagem, traços, mulheres, desenhos, sugestões, como Janis Joplin and the Big Brother's band, como Charles Bukowski, como Robert Crumb. Precisava de vida, de atuações em cartaz, em camisetas e em peles. Precisou seus fatos em uma contínua procura pelo bonito no simples caminhar do desaparecimento - do enclausuramento. Isso tudo depois de ver que não havia saída, sentido, êxito em militância pela mídia já dominada pela moral e bons costumes. Um cheiro cristão levava os artistas subversores da ordem-que-emburrece aos porões. Ou então fazia com eles o que faria com tudo - plastificava. Tirava uma foto, assim, polaroid, sem que eles soubessem, e os levava para as universidades. Lá, então, os estudantes davam um mínimo de atenção ao que eles "produziam". Se a arte underground ficou pra trás, o momento dela parece ter se esvaído num limbo da surpresa. A fotografia faz isso - o que seria de nosso mundo sem a fotografia? Ela

Homenagem a Michelangelo Antonioni

Zabriskie Point (1970) Se não é, ainda vai ser considerado um dos mais completos diretores do cinema moderno. E, se não é, ainda vai ser um dos filmes mais trágicos da modernidade. Apesar do herói de Zabriskie Point não ser tão moderno assim - ele é um herói à moda antiga, da maneira que hollywood deseja sempre - à la James Dean. O negócio de Antonioni é mundial - o cinema dele comunica não só pra um pequeno grupo de pessoas de uma tribo vermelho e azul, com estrelinhas. Ele já havia conhecido o cinema japonês antes de qualquer outro brincalhão de hoje em dia. Antonioni era irônico, sim, mas nunca um paspalho que se autodepreciava com espetáculos da mídia. Na verdade a mídia pra ele era o que o nome quer dizer - um meio. Esse meio passa não só sentimentos, mas o mundo inteiro. Passa não só o humano, mas o que cria o humano. Zabriskie Point, não por acaso, tem a trilha de Pink Floyd - banda inglesa de uma vanguarda tardia, ou revisitada . Se vemos vida no vale da morte , nos EUA, vemo