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Mostrando postagens de junho, 2007

Fantastic Four - 2007

Filme infantil, claro, como não poderia ser diferente das demais investidas da Marvel no cinema. Esta marca virou uma empresa, que difunde seus personagens pela telona agora, depois de uma daquelas crises de identidade do cinema Hollywoodiano. Mas é exageradamente ridículo como essas produções acabam se saindo piores que qualquer HQ. Os atores são péssimos - com exceção do surfista prateado, que talvez seja, tal como o roteiro, o gancho para que o filme não seja jogado por completo no lixo. Seria realmente entediante ver mais um seriado teen burro no cinema. Se não fosse a intriga causada pelo governo norte americano e seu braço militar, o pentágono contra os heróis do filme, não teríamos nada mais que milhões de US$ sendo jogados fora. Os quatro trabalham para sua pátria, assim como o governo. A pátria, portanto, ultrapassa qualquer instituição estatal, algo abstrato que os criou também, o quarteto fantástico. Mas os EUA no filme realmente tomam conta do mundo. Desde a Alemanha até a

La ilusion viaja en tranvia - Luís Buñuel - 1953

O surrealismo no cinema não é acrescentado. Tá na figura dos planos- é inerente. Não adianta então dizer que Buñuel era um "cineasta surrealista", a não ser numa tentativa de colocar os seus filmes dentro de uma gênero a ser digerido. David Linch , George Lucas também lidam com o onírico e o absurdo em seus filmes, nem por isso ninguém os chama de surrealistas. Talvez de experimentais. O caso do diretor comunista espanhol é mais grave que qualquer experimentação. Seu primeiro curta com Salvador Dali é initeligível, e por isso fascinante. Quando ele sai exilado de seu país e conhece o México, aí sim temos contato com um cinema que influenciaria todo o mundo com suas peripécias. Na sua fase mexicana, Buñuel entra no funcionamento industrial da criação de planos de filmagens, mas nem por isso deixa as faíscas do inconsciente serem tolhidas. A ilusão viaja de trem vemos todo o filme como algo absolutamente absurdo - aquilo não acontece, não haveria como acontecer. No entanto, é

Mouchette - Robert Bresson - 1967

Em português o filme teve o título de Mouchette - A virgem possuída. Não só foi absurdo acrescentar esse subtítulo, como foi criminoso. O filme é uma tragédia das mais contemporâneas, não só por usar uma personagem feminina sem perspectivas, completamente impotente. Não só também por Mouchette fazer parte de uma família de campesinos e por sofrer com a modernização e seu desencantamento. O filme também é um derramamento de ascetismo com lirismo romantizado, mas com forte formalismo que se mostra como filme. Bresson era religioso, sim. O mundo seria um fardo. E quem evidencia essa miséria do mundo? Os marginalizados. Mouchette é uma virgem, como Maria, que é sacrificada pela sociedade onde vive. Não lembro de cena tão forte no cinema quanto a dessa pequena virgem cuidando de sua mãe doente e de seu irmãozinho em uma casa de um só cômodo. Ou dela tentando ajudar a todos que encontra - rejeitando apenas a ostentação da riqueza de meninas. Mouchette pode ser visto e compreendido hoje... co

Maria Antonieta - Sofia Coppola - 2006

Há quem diga que a personagem de Maria Antonieta (Marie Antoinette) é o alter-ego da diretora Sofia Coppola , neste seu terceiro filme. No meio de tanta pomposidade, do mundo de adornos e uma estética que preza pelos fru-frus maneiristas; dentro de uma entidade que cobra atitudes referentes a um comporamento nobre - exatamente como quer a indústria cinematográfica, a diretora se sentiria acuada, e expressaria isso na sua película. Mas é certo que Sofia , neste filme, mostra que possui já um certo domínio do que está fazendo, e pronta pra filmes blockbusters de qualquer espécie ou gênero. Como talvez a primeira cineasta mulher que chegue a ter um nome reconhecido mundialmente nessa indústria, ela prova seu senso estético bem apurado. Isso porque apesar dos fru-frus, do exagêro da corte de Luís XV, vemos como essa volta ao passado é algo extremamente forçado por uma brincadeira estética atual, no discurso de Maria Antonieta. É, já, um pé fora da imposição da arte industrial pós-moderna q

Correspondente Estrangeiro - Alfred Hitchcock - 1940

O filme é feito ainda em guerra, em 1940. É um ótimo documento. Aquela velha ironia do cinema de Hitchcock é vista na história que se passa na Europa pré-guerra. Mas ela aparece apenas como traço de um estilo, não como aspecto mais importante. O fundamental é a mensagem que se passa ao país que acolheria o velho Hitch, e daria condições para que ele produzisse muitas de suas obras - os EUA. São muitos filmes que põem esse país como o salvador da guerra, mas talvez a raridade deste seja por ele ter sido feito durante a ebulição das invasões fascistas no velho mundo. É difícil não se perder na intensidade política completamente estetizada pelo cineasta, um erro fatal se ele não estivesse à procura de soluções para aquela hecatombe que acontecia. Digo isso porque fazer entretenimento e brincadeiras com fatos políticos é quase impossível sem que se perca o domínio da obra. Ela sai do controle de qualquer intenção e segue qualquer opinião - desde a mais rasa à mais sem sentido. Não é o caso

Dangerous Game - Abel Ferrara - 1993

Madonna não é maria, nem virgem, nem mesmo real. Em qualquer aparição dela há a exata elucidação de sua falsa e espetacular condição. Veja o nome dado: Madonna - um objeto de apreciação tanto artístico, quanto de homens. Como vivemos em uma tribo global machista, tudo está em casa. No filme de Abel Ferrara ela surge como aquela que incita o tal jogo perigoso. A mulher antes despudorada, agora de família. Afinal, a família é algo a ser elevado como padrão, como fim de uma vida? Ela deve mesmo ser a base dessa sociedade de consumo? Ela é a realidade basilar? Para um melodrama, sim. Mas não para um filme que briga, acaba com esse drama. Ainda que haja um clima religioso, muitíssimo diferente daquele um dia criado pelo realista alemão Herzog , citado no filme, temos aquela noção da minúncia anti-cidadão-mediano-americano-falso. E vemos o ídolo Madonna como, agora, um ícone caído, morto. Ela mesma é uma iconoclasta, se chegamos mais próximo de suas músicas. O filme acaba sendo uma experime

Rebecca - Alfred Hitchcock - 1940

Duas coisas pra se grifar nesse filme de Alfred Hitchcock . A primeira é que ficamos sem saber o nome da personagem principal de Rebecca. A segunda é que há uma outra personagem que não põe as caras na película, e é quem dá sentido a toda a trama: a finada sra. De Winter, Rebecca. Foi o primeiro de muitos filmes ímpares do diretor inglês nos EUA, e talvez já aquele que mostra o grande fôlego narrativo do chamado mestre do suspense. Hitchcock é talvez insuperável até hoje pela sua capacidade de manipular de uma maneira impressionante todos os climas de seus filmes. Qualquer espectador mediano se sente entediado em um filme mal narrado - não sentimos isso nos filmes de Hitchcock , já que há uma mudança brusca de geografias e personagens, nos seus filmes mais conhecidos. Em Rebecca a personagem principal é extremamente cativante por ter vindo de classe pobre, de um emprego humilhante de "companheira" de dondoca aristocrata para esposa de um dos mais conhecidos nobres da inglater

L'ora di religione - Marco Bellocchio - 2001

Pra quem não acredita em deus, ele surge neste filme não tão pretensioso do diretor italiano. Do início ao último plano, um deus que está nas artimanhas do vaticano, nas propagandas publicitárias da igreja, das defesas conservadoras de beatas do país que praticamente criou o catolicismo. A arte, o cinema de Bellocchio não conseguiria acabar com esse deus romano, mas apenas dispôr uma iconoclastia bem na forma moderna. Deus não vale mais para a arte, mas está na política, na sociedade. E essa política é forte. É a que quer santificar e dar status, dar uma aura socialmente aceita, uma transcendência mítica que é completamente ocidental. Esse deux do Papa é comum à nossa realidade e dá caráter santo, beato, àquilo que entende como interessante para a comunidade católica. O filme critica veemente essa falsidade da igreja, que ostenta riqueza mas não se explica racionalmente, não tem nada que convença a quem procure explicações - apenas é. Tal é a imposição da fé que o filho que sofre distú

Sans Soleil - Chris Marker - 1983

Florence Delay fala durante um filme documentário, Sans Soleil , sobre a memória. As lembranças que já se tornam lembranças durante o mesmo filme. O tema de uma estética que já percebe algo de antigo na modernidade, algo que Chris Marker e a câmera stylo escreve perante nossos olhos. Se algum dia houve uma perspectiva de revolução, como em um Medvedkine de Besançon , grupo no qual Marker e alguns "guerrilheiros" do cinema fabricavam filmes, agora isso não passa de romantismo ou nostalgia. Estamos na década de 80, é bom lembrar. Lembremos também que nessa década o Japão exportou seu espetáculo midiático para o mundo. Minha infância teve que consumir Jaspion, Akira, Mangás, samurais, lutas marciais, todo o universo kitsch da terra do sol nascente (ou poente). Heiddegger mesmo, filósofo adorado pelos franceses, já diria que o Ser não mais teria sustento no mundo ocidental - estaríamos prestes a acabar com os resquícios de nosso deus maior, nossa consciência, nosso louvor a um

Sweet Smell of Success - Alexander Mackendrick -1957

O sucesso na era dos filmes negros (noirs) parecia algo menos colorido que o das celebridades circenses de hoje. Na década de 50 a roupagem da sociedade era mais adulta, mais séria, mais aguda em criações que teriam de ser verossímeis. Não por acaso, nessa era, um filme como Cidadão Kane aparece, com o jovem Orson Welles zombando de um dos mais ricos jornalistas da época - Randolph Hearst. A imprensa seria, ao lado do cinema, a criadora desse mundo. No filme de Alexander Mackendrick, o diretor de um de comédias de humor negro (também) como Matadores de Velhinhas (The ladykillers, 1955) , o sucesso existe devido os agentes, produtores dele. Um trabalho denso, mas moderno, de pessoas vivas que entram na rotina da procura por celebridades. Ao mesmo tempo um trabalho que lida com a fama - o espetáculo já era comum no relacionamento pessoal, tanto que no filme percebemos como é que a realidade bruta é criada pela imprensa. Esses produtores são personagens fundamentais pra que o que "ex

Babel - Alejandro Inarritu - 2006

Inarritu já se conforma com um "documentário" da ficção politizada, e nos faz ficar conformados com essa nuance. Só que não só ele faz cinema dessa maneira, tantando ser mais realista que qualquer câmera em tripé. Vemos isso em Traffic de Soderbergh, em Syriana de Gaghan, a tentativa é de mostrar conflitos entre um mundo completamente atrasado e os EUA, o grande império. Em Babel vemos três histórias que se entrelaçam - uma em Marrocos, outra nos EUA e México, e a última, a mais afetiva, no Japão. Na verdade os conflitos são sempre de comunicação - a dificuldade, ou impossibilidade de se estabelecer diálogo entre os que dominam e os que são dominados. Tanto do pai que dá uma espingarda aos filhos, do chefe da casa interpretado por Brad Pitt que não consegue gerir sua babá nem a comitiva que levava ele e sua mulher, dos policiais com os possíveis terroristas ou com o irmão da babá que os trazia do México, ou da deficiente auditiva japonesa ansiosa por sua libído... São desente

SOCIALISMO OU BARBÁRIE

Houve o tempo em que São Petersburgo, cidade criada pelo Czar Peter I ainda na época romantica, fosse lugar de pensamentos vanguardistas e revlucionários. Estes últimos imbuídos pelo pensamento de Marx, Engels e demais socialistas discutiam e faziam assembléias nas ruas, ao lado do rio Neva, nas grandes passarelas. Estas discussões chegaram aos trabalhadores, que iniciaram as greves e insurreições bastante conhecidas pela história da revolução Russa. Foi a partir dessas mobilizações que a europa tomou conhecimento daquele país sempre renegado, um país subdesenvolvido ainda, com problemas parecidos com os nossos de hoje em dia. Mais tarde esse socialismo se transformaria em um regime autoritário, e capitalista também, mostrando a fraqueza do movimento. Há hoje quem diga, e eu até concordo, que a revolução que houve na Rússia foi uma revolução industrial atrasada. Ou seja: uma revolução capitalista. Porém, os ideais eram outros. Toda a europa começa a discutir a possibilidade de mudança

Àqueles que adoram Wittgenstein

Este filósofo, desculpem-me vocês que o adoram, era contra a liberdade de criação. O pensamento dele nasceu na science e morreu nela, apesar de ter se nivelado à linguagem mais popular. A genialidade dele, aliás, foi de ter conseguido tirar o sacerdócio de cientistas-filósofos que sabiam de tudo - toda a história da filosofia, e todas as formas de se pensar. No entanto, convenhamos, Wittgenstein se guia por esquemas, formas, modelos. Certo é que todo o pensamento como conhecemos é estruturado dessa maneira - mas ele não é criado assim. A criação ultrapassa as retas e grades de regras ou regimentos filosóficos. As normas, mesmo sendo linguísticamente postas à prova mediante proposições, elas são esquemas dentro de grades e muros do saber. Conhecimento pode sim ser palpável através de exemplos e imagens. Não somente simbólicas, como sempre se falou, mas também alegóricas. A mímese ainda existe mesmo em dissertações, declarações, discursos. As imagens provocam pensamentos novos. Criaçõe

Juventude Transviada

Juventude não tem mais fonte, tem que procurar nas universidades aqueles mais afoitos vestidos de palhaço e dispendendo as energias em movimentos de luta - algo que parece cada vez mais coisa do passado. Como ouvir Janis Joplin, Doors, Hendrix. A coisa hoje, véio, é ouvir o que passa na Mtv. Isso no máximo, claro. Os jovens querem dominar o mundo? não, não - é só por uma questão de número, eles são maioria. Então são obrigados a gritar e fazer passeata, mostrar toda a libido e força "revolucionária". Já houve muita discussão a respeito de maio de 68, da revolta estudantil. Hoje a gente vê o que sobrou de maio de 68. O que sobrou da década de 60. Ningu ém inventa nada - só copia algo que já passou. É só ver como a mídia tem influenciado absurdamente qualquer movimentação e sotaques por aí. É isso - a crítica ao espetáculo e à esquisofrenia não cabe mais. Temo que já coube, em momentos mais fundos, como na década de 60. Hoje, uma quase neo-idade média, a tentativa de crítica pr

De como Judas é importante na constituição de uma narração testamental

JUDAS - Pra quem tem como arquétipo ser Cristo, ou ter Jesus como parâmetro de um ser humano bondoso que quer dar ao mundo um princípio, ou princípios que não estão atrelados ao dinheiro ou à trocas abstratas, como o capital. Judas seria um traidor porque virou o rosto para Jesus, também, já depois de tê-lo caguetado. Nos morros e periferias o Judas, caguete, é aquele que tem proximidade com a polícia. Há códigos de conduta bastante profundos no crime organizado, ou no crime desorganizado como o é em grande parte dos casos. Aquele Miguel que dedura todos os participantes da organização é o maior dos traidores na linhagem humana - e não é visto como herói nem mesmo pela polícia depois. Se ele não ganha nada, nem de um lado nem do outro, contando ao Estado onde estão e quem são os contraventores, porque ele ainda faz isso? Medo? Isso - Judas é um medroso. Ele vira o rosto porque não quer olhar para aquilo que ele mesmo criou - a situação nova proporcionada por um ato seu. Ele não quer m