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Juventude Transviada

Juventude não tem mais fonte, tem que procurar nas universidades aqueles mais afoitos vestidos de palhaço e dispendendo as energias em movimentos de luta - algo que parece cada vez mais coisa do passado. Como ouvir Janis Joplin, Doors, Hendrix.

A coisa hoje, véio, é ouvir o que passa na Mtv. Isso no máximo, claro. Os jovens querem dominar o mundo? não, não - é só por uma questão de número, eles são maioria. Então são obrigados a gritar e fazer passeata, mostrar toda a libido e força "revolucionária". Já houve muita discussão a respeito de maio de 68, da revolta estudantil.

Hoje a gente vê o que sobrou de maio de 68. O que sobrou da década de 60. Ninguém inventa nada - só copia algo que já passou. É só ver como a mídia tem influenciado absurdamente qualquer movimentação e sotaques por aí. É isso - a crítica ao espetáculo e à esquisofrenia não cabe mais. Temo que já coube, em momentos mais fundos, como na década de 60. Hoje, uma quase neo-idade média, a tentativa de crítica profunda acaba passando direto.

Se pudéssemos eleger um inimigo poderoso que nos deixa assim sem criatividade, seria quem: As mídias, ou o Estado? Um convence e o outro obriga. Qual o dispositivo mais perigoso pra cabeça de um jovem? Óbvio que as mídias - o Estado ainda não cobra responsabilidade dele. E quando cobrar, geralmente ele deixa a militância de lado e diz: "eu não sabia como era a realidade".


A REALIDADE
Ainda não se pensa como a realidade constrói não somente subjetividades, mas ela própria. Os olhos e as bocas, os gestos e as falas. Não se pensa que ao comprar batons e ao se adquirir determinada gíria sem querer estamos entrando na realidade. Não viramos uma pessoa real, um personagem real, um tipo real somente quando convencemos a todos que existimos - mas quando nos convencemos que existimos.



Vamos a um exemplo: o que é o G8? Se você não sabe, não se exalte, e não precisa procurar no limbo da internet. Só pra ilustrar como a realidade está aí e não está nem aí pra você. A cúpula do G8 se reúne como que em uma távola redonda - e quem sabe um dia vire mito também. A que interesses ela, a cúpula, está submetida? Ninguém sabe nada, isso é claro. A realidade é a mais irreal de todos os tempos. Hoje, sem medo de acertar, estamos num mundo claramente imaginário no qual as mídias contribuem com seus contos de fadas infantis para condicionar as crianças que não querem chegar à idade da razão.

Assim chegamos a um impasse. Há mesmo quem manda nesse jogo de convencimentos e condicionamentos? As fotos não comprovam a beleza dos mundos coloridos e monótonos. É um universo caótico contra o universo "natural" das coisas. A condição objetiva da vida - vestir a carapuça de empresário mundial e gestor de Estados.

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