Pra quem não acredita em deus, ele surge neste filme não tão pretensioso do diretor italiano. Do início ao último plano, um deus que está nas artimanhas do vaticano, nas propagandas publicitárias da igreja, das defesas conservadoras de beatas do país que praticamente criou o catolicismo. A arte, o cinema de Bellocchio não conseguiria acabar com esse deus romano, mas apenas dispôr uma iconoclastia bem na forma moderna. Deus não vale mais para a arte, mas está na política, na sociedade.
E essa política é forte. É a que quer santificar e dar status, dar uma aura socialmente aceita, uma transcendência mítica que é completamente ocidental. Esse deux do Papa é comum à nossa realidade e dá caráter santo, beato, àquilo que entende como interessante para a comunidade católica.
O filme critica veemente essa falsidade da igreja, que ostenta riqueza mas não se explica racionalmente, não tem nada que convença a quem procure explicações - apenas é. Tal é a imposição da fé que o filho que sofre distúrbios mentais sente-se pressionado a gritar contra deus e a virgem maria - pressão que certamente o fez matar sua mãe, uma "estúpida católica" que armava também a morte de seu filho. Mas essa versão crítica também não convence a um católico, é apenas a do personagem principal - o tal artista iconoclasta.
A trama melodramática faz sentir o peso da política em uma família, sem mesmo vermos um só político ou instituição.
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