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Crna macka, beli macor - 1998 - Emir Kusturica

Kusturica - em Gato Preto, Gato Branco, pode ser considerado hoje um dos cineastas que permitem que nós, aqui das américas, saibamos o que é realmente a barbárie. O novo mundo, na nova era, não chega perto da história de quiprocós dos ciganos do leste europeu.

Tudo bem, somos enrolados, temos uma cultura popular carnavalesca, temos brigas estriônicas e a nossa família ainda é da era clássica antiga. Nosso provicianismo ainda nos segura nessa investida via o caos esdrúxulo. E esse quê grotesco que alguns mais polidos tentam levar às telas tem uma sublimidade ainda não compreendida, mas sentida pelas platéias - as massas.

Sim, porque hoje o cinema voltou a ser uma arte das massas, das massas mesmo. Não digo isso com rancor, pelo contrário. As massas hão de dominar o mundo com essa forma caótica de se manifestar - matando em busca de dinheiro, e ressucitando os velhos pater família para que tudo se ordene novamente. Será essa a solução, a do happy end antiquado?

Ele, Kusturica, então devolve ao cinema aquilo que a instituição que o dava fama clamava. Uma estética que o pós-moderno de Almodóvar fica a dever em intensidade, mas que se assemelha nos exageros coloridos do mundo hedonista às escondidas, e conservador no prazer midiático televisivo - familiar. O diretor então deixa de lado a crítica política, pra viver bem como um dos diretores que conseguem o diálogo do leste europeu completamente fragmentado e el nuevo mondo economicamente ávido.

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