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A MORTE de uma anarquia

Há pouco tempo eu ficava irritadíssimo (sim, esse blog também tem textos em primeira pessoa, mas nada, absolutamente nada indica que sejam mais verossimilhantes ou verdadeiros que os textos escritos na distante voz da terceira pessoa)...

voltemos - eu ficava irritadíssimo com a idéia de novas bandas encarando o processo artístico de criação como um trabalho. Era um resquício da visão romântica que, na frente com a banda Nirvana, muita gente acabou concordando. É só ver o In Utero ( último disco da banda) pra sacar como tudo era, em outra década de 90 não consumista.

Mas Kurt Cobain morreu com um tiro de espingarda e completamente dopado de heroína. Não quero dizer que ele sirva de lição para que, hoje, nós comecemos a ter outra visão do trabalho artístico, ou mesmo do meio artístico. Mas onde pode dar o radicalismo desenfreado, noiado e insano do rock n´roll adolescente.

Não que a adolescência seja o lugar de impostores, ou de falsos revolucionários... Mas é o lugar de uma anarquia hormonal que, em qualquer que seja a tribo, pode ter a teleologia suicida.

O suicídio poderia até ser um sacrifício de deuses modernos que, insatisfeitos com toda a ilusão midiática que havia pego à contrapelo todo o último fôlego punk, ou militante pop drogado e junky, haviam de matar seus filhos bonitinhos que saem na capa de revistas como Rolling Stone e People.

Sendo que pedras de crack e o povo, hoje, estão mesmo muito mais próximos do que qualquer trabalho mais metódico... Podemos confirmar o instinto romântico radical que ainda perdura em nossas mentes ingênuas - mas muito conscientes.

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