Início do século passado tudo ia bem. Tudo estava no mais completo sincronismo, as músicas eram todas no ritmo da sociedade modernizada, as pessoas andavam na multidão entre as ruas como flâneurs, e a sociedade ocidentalizada regrava o mercado que viria dar lições ao mundo de como se portar diante de uma transação entre pessoas - as relações tornavam-se espetacularizadas, principalmente quando a câmera fotográfica fora criada.
A foto dava aos sujeitos fotografados o status de persona non grata no mundo que sempre existiu. Um dilema ético, já que, após as fotos, nem todos são agora os mesmos que sempre foram. Mais que o espelho lacaniano, a fotografia mostraria o ser que nunca se viu - numa perspectiva que nunca havia se visto. O mundo da nova época era o da industrialização e , por conseguinte, o da observação de uma arte completamente diferenciada da clássica.
Víamos um mundo moderno, e, ao mesmo tempo, naquela usurpação antiga de um velho mundo em busca dos ouros dos "novos mundos" - em específico da África, e do território oriental. Era tanta usura, tanta ambição, que no fim de tudo, só podia acontecer uma guerra. A primeira.
A segunda guerra surge por conta dos resquícios da primeira, e da crença de que após a primeira, nada de pior poderia acontecer.
Voltemos ao início - o início do século passado. Se há uma rotatividade, um ciclo da história, vivemos uma nova bela época no início desse milênio. Há problema nisso? Sim. Sendo o menos cabalístico, e o menos místico possível, essa nova bela época é muito mais abrangente e democrática que a do início do século XX. Mais colorida, e o mercado, agora extremamente globalizado, transforma tudo em mercadoria, deixando a univocidade da razão num patamar dubitável. A mitificação ressurge, não com ares romantizados, mas com uma filosofia muito barroca por trás dessa figuração das danças fetichistas.
Ao lado dessa nova época corroborada pelo sentimento de democracia plena, vemos a radicalização do fundamentalismo religioso no oriente. Não temos mais colônias entre os países subdesenvolvidos, mas a relação de poder entre nações continua a mesma de uma centena de anos. Essa democracia é, ao mesmo tempo, no espetáculo da contemporaneidade, uma reafirmação da solidão humanista, e de uma despolitização completa das classes e de seus conflitos inerentes - dentro do tal esquema capitalista idealizado.
As pessoas deixaram de ser gente, e por isso perderam o contato com a intuição dos novos tempos. Inclusive, a palavra novidade deve ser rejeitada nesse milênio de revoluções tecnológicas. Isso não se levando em conta que essa etapa da revolução industrial é uma abstração. E essa abstração tecnicizante deixa todos na esperança de uma força vital... Que na debilidade democrática, não se resolve.
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