Pulamos o primeiro documentário para este segundo episódio por duas razões evidentes.
1a) Sílvio Tendler, o diretor, apresenta o absurdo que é a aceitação universal no Brasil de agrotóxicos através de uma política e de economias à parte da cidadania, muito comum no país. Mas essa produção de 2011, militando contra uma dominação de empresas como a Basf, Monsanto, a prática já disseminada de transgênicos e o uso indiscriminado de pesticidas, atira diretamente na bancada do congresso que desvia as questões - os ruralistas. Dessa maneira assistimos a um ótimo filme político.
2a) O documentário apresenta as questões, introduz, dá ao espectador o que se espera desse primeiro contato: o terror. Ainda sem perspectivas de uma política contrária, o primeiro filme ataca mais que propõe. Nada de errado na tática, mas o tom, mesmo o tratamento do filme, sua "diagramação"geral (que envolve tanto as cartelas, a arte gráfica, e mesmo a edição) ainda parecem ter o motivo unicamente contraventor - a arma militante de quem se vê extremamente acuado em alguma questão, em filmes independentes.
O caso do segundo episódio muda os ventos, e surpreende no que nos envolve. O tema é o mesmo, mas o tratamento muda radicalmente. O Veneno Está na Mesa 2 (que pode ser assistido neste link do youtube) é também um filme político, mas já abre espaço para uma "frente libertadora", além do puro ataque. Certamente, neste episódio, assistimos a um documentário sobriamente edificado, com o que faltava no primeiro. Algo que chamaria aqui rapidamente de pedagogia construtiva, mas que, mesmo na intenção de diálogo franco, também não abandonaria o teor crítico mencionado.
Aquilo que se propõe no gênero de Tendler, o político, se expande ao cotidiano. Sabemos que a política, ou nossa biopolítica atual, está em pequenos atos que nos envolve todas as horas do dia. E que a alimentação é parte dessa nova luta por uma remodelação brutal de políticas e economias dominantes. Se é possível materializar essa biopolítica da vida que se inventa contra o domínio massivo de empresas químicas, hoje, no Brasil, a citação direta a este filme torna-se inevitável.
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