Este realismo novo que o Oscar, premiação industrial, vez em quando quer frisar como um de seus trunfos está em Lady Bird, em O Irlandês (citar Scorsese neste rol é apelar, concordo), está na vague de Spike Lee, no experimento netflix de Afonso Cuaron, Roma, em O Regresso, em Clint Eastwood, enfim - alista é enorme! É um caminho contrário aos filmes de heróis, e se pode ver essa crítica sendo feita por dentro de NY em Birdman.
Neste filme que concorre a 5 oscares neste ano, o realismo cai no som. Pode ser chamado de experimento, mas é preferível entrar na trama do filme, no roteiro deambulante (on the road) que é interrompido por uma questão corporal. Angustia, sim, mas realista e seca. Os ideais de juventude que se embargam quando a sobrevivência bate na porta... Ou, as relações humanas de uma sociedade extremamente classificada (em classes), mesmo tendo seus pormenores nas diferenças. A força da exclusão étnica norte-americana, com maquiagem de um naturalismo - ou, de uma natureza que nos causa deficiências.
Pode servir como provocação ética a respeito de nosso contexto atual de pandemia, quando a natureza atua contra nossa tal "liberdade" de escolha em querer trabalho.
Mas, na verdade, o que mais afeta no filme parece ser o relacionamento entre pessoas. O personagem principal como vetor desse realismo é patente, mas a imersão na psicologia de uma maneira social talvez seja o ponto mais curvado. A tensão de vida de Ruben, quando confrontado pelos acontecimentos, faz com que nós percebamos o quanto temos uma fragilidade diante do outro. A solidão do personagem em sua luta é comovente, mas se mostra como necessidade. Quando retorna ao patamar anterior de seu relacionamento, ele já não é mais ou mesmo pois, segundo o próprio personagem, a vida é essa eterna mudança.
Aceitar as mudanças é uma coisa. Lutar pela sobrevivência nelas, é algo a se pensar. Principalmente no grande tema artístico norte-americano da Solidão.
Comentários