No primeiro momento é a descoberta. A gente, criança, se enfia nos lugares mais estranhos, e experimenta os climas, as texturas, os cheiros, as cores e as luzes. A gente anda correndo porque o mundo é pouco, tudo é energia no nosso corpo, por causa da ânsia de elucidações. Deus não se move: ele apenas nos mistura no mundo. Ainda o vemos como pai que traz justiça e paz.
Pintura nas cavernas.
No segundo momento é o embate revoltado. Nosso corpo não é mais o que procura, mas o que é procurado – na maioria das vezes. O mundo se mostra igual, não temos mais porque ter felicidade, nem sorrir, nem correr. Forças oprimem, pessoas te olham com sobrancelhas arqueadas, cobrando. Obriga-se posição sobre tudo, porque agora já é quase um adulto. Deus, agora, está do nosso lado – e ele parece não se importar tanto com nossa pessoa. Mas ainda o vemos com a cabeça baixa. Descobre-se que gritando, mais pessoas nos ouvem.
Primeiras armas.
Em um terceiro momento vem a consciência. Já estamos cientes da tragédia da vida, do igual. Sabemos que não estamos nem no primeiro, e nem no segundo momento. Sabemos que sabemos, e isso nos deixa egoístas. Nós visitamos os segredos naturais – descobrimos que deus nos prega peças. Descobrimos, sim, mas com certa apuração dos fatos. Somos mais responsáveis pelo que acontece, ao mesmo tempo que nos sentimos impotentes com nosso trabalho.
Música, arquitetura, estradas, discurso, civilização, filosofia, ciência, experimentalismo.
No quarto momento, caímos no desespero completo. No terceiro o deus se veste de demônio, para agora, neste quarto, percebermos que o mal é muito presente. Na verdade não entendemos se é o mal ou o bem que nos comanda, certas vezes. Emoções profundas aparecem, e a arte se torna uma das maneiras mais completas de expressão. Nossa obsessão não é mais o saber completo, mas a imersão no rio das ambigüidades. Deus e o diabo, agora importantíssimos em nossa vida, se confundem, nos abraçam e dançam como se nos conhecessem há tempos.
Barroco, Igrejas, Estética, Universo, Caos...
Ah... Deus... Era tão importante e agora vem se afastar. É o quinto momento que, nem com as orações conseguimos nos fazer prestar atenção em alguma coisa. O jeito, nessa hora, é copiar, é deixar de criar. O jeito é reproduzir, é crescer com nossas pernas. E o mais rápido possível. Como o sujeito, desde o momento anterior, se torna o centro do mundo, surge a competição. O homem olha para seu semelhante e vê nele sua imagem e semelhança – deus se vê enciumado. A força do ser humano nunca foi tanta – ele está em sua idade mais produtiva, mais produtiva, e mais sensual, mais “produtiva” - mais produtiva. Uma pena não usar essa capacidade em criação, mas sim em cópias baratas, chulas, kitschs.
O Clássico, O Capital, A Indústria, As Artes, A prisão...
Há uma pausa para o romantismo.
Sexto: deus morre. E quem mata somos nós. Ele se torna inútil. Tudo é nada. Nada é tudo. Tudo é pouco. Pouco. Repete-se. Pouco. Loucura. O abismo tá perto. Andamos rodando. Corremos e paramos. Sem sentido. Ouvimos metralhadoras. Ouvimos máquinas. Lemos matemática. Sentimos a potência de alguns seres que se destacam por capacidade de persuasão – é a cisão do modelo antigo de democracia calma para uma democracia cega de massas. Nos sentimos pequenos porque queremos assim. Começamos a querer ser pouco, pois não há outra saída. Casamos, criamos um filho e nos acalmamos.
Modernidade, desencanto, carros, plástico, o falso, a ditadura, conservadorismo, vanguarda, o espetáculo
Sétimo momento: volta a consciência do que estamos sendo. Agora é tarde. Só nos resta o cinismo da espera pela morte. Nosso ódio é tanto nos dá impulsos terroristas. Mas, como deus já foi faz tempo, ficamos na berlinda da linearidade invocada por nós mesmos nos momentos anteriores. Foram tantos momentos antes desse que a vontade de mudança inexiste: tudo já foi vivido, já foi visto. Nada há de dar certo. Alguns se apóiam no amor por pura fuga, na fé por pura aberração. Entretanto, não há nada mais forte nesse momento do que a fraqueza.
Pós – modernidade, suicídio, tristeza, brancura da irracionalidade, por outro lado aparece a filantropia da positividade...
Nossa impotência nos comanda, então viremos primitivos. No oitavo momento há a percepção de que somos animais também, e não somos, e nunca fomos o centro do universo. Nos deparamos à frente de uma serra cheia de montes ainda a ser explorada. A aspereza da dificuldade reaparece como um desafio a ser ultrapassado, só porque não agüentamos mais a tristeza da palidez. A violência que ficou guardada por muitos momentos reaparece para nos libertar da indiferença da falta do que fazer. Com o mundo. Nunca fomos tão impotentes, ao mesmo tempo tão revoltados com essa condição. Aquele abismo no qual nós quase tínhamos pulado há pouco: nós damos as costas a ele, merda. O negativo e o positivo se entrecruzam – do mesmo jeito que há pouco tempo faziam deus e o diabo em suas peripécias mundanas e dionisíacas. Vemos no outro um aliado contra essa apatia que se dilui ao caminho do vento opressor do norte.
Ainda não sei.
Pintura nas cavernas.
No segundo momento é o embate revoltado. Nosso corpo não é mais o que procura, mas o que é procurado – na maioria das vezes. O mundo se mostra igual, não temos mais porque ter felicidade, nem sorrir, nem correr. Forças oprimem, pessoas te olham com sobrancelhas arqueadas, cobrando. Obriga-se posição sobre tudo, porque agora já é quase um adulto. Deus, agora, está do nosso lado – e ele parece não se importar tanto com nossa pessoa. Mas ainda o vemos com a cabeça baixa. Descobre-se que gritando, mais pessoas nos ouvem.
Primeiras armas.
Em um terceiro momento vem a consciência. Já estamos cientes da tragédia da vida, do igual. Sabemos que não estamos nem no primeiro, e nem no segundo momento. Sabemos que sabemos, e isso nos deixa egoístas. Nós visitamos os segredos naturais – descobrimos que deus nos prega peças. Descobrimos, sim, mas com certa apuração dos fatos. Somos mais responsáveis pelo que acontece, ao mesmo tempo que nos sentimos impotentes com nosso trabalho.
Música, arquitetura, estradas, discurso, civilização, filosofia, ciência, experimentalismo.
No quarto momento, caímos no desespero completo. No terceiro o deus se veste de demônio, para agora, neste quarto, percebermos que o mal é muito presente. Na verdade não entendemos se é o mal ou o bem que nos comanda, certas vezes. Emoções profundas aparecem, e a arte se torna uma das maneiras mais completas de expressão. Nossa obsessão não é mais o saber completo, mas a imersão no rio das ambigüidades. Deus e o diabo, agora importantíssimos em nossa vida, se confundem, nos abraçam e dançam como se nos conhecessem há tempos.
Barroco, Igrejas, Estética, Universo, Caos...
Ah... Deus... Era tão importante e agora vem se afastar. É o quinto momento que, nem com as orações conseguimos nos fazer prestar atenção em alguma coisa. O jeito, nessa hora, é copiar, é deixar de criar. O jeito é reproduzir, é crescer com nossas pernas. E o mais rápido possível. Como o sujeito, desde o momento anterior, se torna o centro do mundo, surge a competição. O homem olha para seu semelhante e vê nele sua imagem e semelhança – deus se vê enciumado. A força do ser humano nunca foi tanta – ele está em sua idade mais produtiva, mais produtiva, e mais sensual, mais “produtiva” - mais produtiva. Uma pena não usar essa capacidade em criação, mas sim em cópias baratas, chulas, kitschs.
O Clássico, O Capital, A Indústria, As Artes, A prisão...
Há uma pausa para o romantismo.
Sexto: deus morre. E quem mata somos nós. Ele se torna inútil. Tudo é nada. Nada é tudo. Tudo é pouco. Pouco. Repete-se. Pouco. Loucura. O abismo tá perto. Andamos rodando. Corremos e paramos. Sem sentido. Ouvimos metralhadoras. Ouvimos máquinas. Lemos matemática. Sentimos a potência de alguns seres que se destacam por capacidade de persuasão – é a cisão do modelo antigo de democracia calma para uma democracia cega de massas. Nos sentimos pequenos porque queremos assim. Começamos a querer ser pouco, pois não há outra saída. Casamos, criamos um filho e nos acalmamos.
Modernidade, desencanto, carros, plástico, o falso, a ditadura, conservadorismo, vanguarda, o espetáculo
Sétimo momento: volta a consciência do que estamos sendo. Agora é tarde. Só nos resta o cinismo da espera pela morte. Nosso ódio é tanto nos dá impulsos terroristas. Mas, como deus já foi faz tempo, ficamos na berlinda da linearidade invocada por nós mesmos nos momentos anteriores. Foram tantos momentos antes desse que a vontade de mudança inexiste: tudo já foi vivido, já foi visto. Nada há de dar certo. Alguns se apóiam no amor por pura fuga, na fé por pura aberração. Entretanto, não há nada mais forte nesse momento do que a fraqueza.
Pós – modernidade, suicídio, tristeza, brancura da irracionalidade, por outro lado aparece a filantropia da positividade...
Nossa impotência nos comanda, então viremos primitivos. No oitavo momento há a percepção de que somos animais também, e não somos, e nunca fomos o centro do universo. Nos deparamos à frente de uma serra cheia de montes ainda a ser explorada. A aspereza da dificuldade reaparece como um desafio a ser ultrapassado, só porque não agüentamos mais a tristeza da palidez. A violência que ficou guardada por muitos momentos reaparece para nos libertar da indiferença da falta do que fazer. Com o mundo. Nunca fomos tão impotentes, ao mesmo tempo tão revoltados com essa condição. Aquele abismo no qual nós quase tínhamos pulado há pouco: nós damos as costas a ele, merda. O negativo e o positivo se entrecruzam – do mesmo jeito que há pouco tempo faziam deus e o diabo em suas peripécias mundanas e dionisíacas. Vemos no outro um aliado contra essa apatia que se dilui ao caminho do vento opressor do norte.
Ainda não sei.
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