
O cinema hoje deveria ser mais ontem. Só que no Brasil, o cinema hoje nem isso deveria. Quem assiste a Che Guevara, ícone de uma revolução que derramou sangue pela inssurreição dos mal pagos ontem, por conta de nossa mente sã brasileira atual, ordeira, que acaba com qualquer ebulição até mesmo nas obras artísticas, é um personagem típico de novela.
As novelas que me desculpem, mas o Cinema brasileiro tem sido pior que elas. Sim, tem sido sim. No Brasil não se seguiu uma linha de diretores, de produtores, de produtoras e etc, como houve, e parece que sempre vai haver com as novelas da Globo. No campo do cinema, um dos nossos expoentes, o Arnaldo Jabor, da Globo também, fala hoje em dia que não faz filme porque tem preguiça. Em contrapartida, a vedete da revista Veja, Diogo Mainardi, faz alguns filmes que ninguém nunca vai ver e faz questão de colocar na sua coluna. E a vedete tem a audácia de se comparar a John Cassavetes e sua produção independente nos EUA.
Todo “bom” intelectual de hoje em dia, de Bernardo Kucinski a Olavo de Carvalho gosta de falar suas maravilhas, em meio a gofadas, a respeito da democracia e liberdade dos EUA em comparação ao Brasil. Seria porque é o país de primeiro mundo mais próximo do Brasil? Deve ser sim. É mais fácil hoje em dia ir pra Miami que pra o México. Professores Universitários têm ataques de epilepsia em bibliotecas das universidades norte americanas... O que diriam das Européias? Deixa a Europa pra lá. Jean Luc Godard, francês, pop moribundo, grita sozinho contra a tal “liberdade” dos EUA.
Não tem razão pra um Jabor da vida chamar Glauber Rocha de idiota por ter morrido cedo (no filme Labirinto do Brasil, de Silvio Tendler), a não ser que todos concordem com isso. Jabor, infelizmente, fala muito o que a maioria quer ouvir. Ele, tão atencioso com a “Opinião Pública” quer soltar os rinchos mais escondidos de nossos compatriotas – e faz um barulho infernal esses rinchos. Jabor é aquilo que Paulo Francis não conseguiu ser, porque este era mais faustoso. O que o Francis fazia era provocar cuspindo pra cima, e nem se atreveu a fazer cinema – o Jabor cospe no Brasil deliberadamente, hoje em dia. A preguiça dele é o ócio do burguês idiota que cuida de seu jardim. Ele é um mal pra crítica. Jabor e o espírito inquieto de Francis também adoram viver nos EUA.
Esqueci do Diogo Mainardi? Sim, é melhor todo mundo fazer isso. Lembremos do Walter Salles e seus pastiches de heróis subversivos. O próximo projeto que vem de suas mãos é o “On The Road”, do Norte Americano Jack Kerouac. Se até Marquês de Sade é adaptado ao cinema hollywoodiano, porque Kerouac não pode? Walter Salles é considerado por muitos economistas como o maior cineasta brasileiro. Os cineastas e montadores, como Eduardo Scorel, acham que ele é um bom economista também. O herdeiro do Unibanco sabe como fazer um filme não ser “despedaçado” economicamente.
Que me digam quem se lembra do período áureo do cinema – quando o cinema novo filmava Che alegoricamente, ou quando Graciliano Ramos era adaptado às telas. Tem um rapaz aqui no Brasil que se chama José Agripino, um doutor letrado da contracultura, década de 70. Será que Walter Salles tem preguiça de filmar romances dele também? E Agripino fez uns filmes também na marginália esquecida... Assim como Caetano Veloso, mas também os ricos Guilherme Fontes (será?), Carla Camuratti, e outros desocupados preguiçosos. É bom saber que, conseguir fazer filmes aqui no Brasil parece não ser tão difícil quanto dizem. Bressane diz isso. É bom dizer isso pra Jabor, que anda arranjando desculpas pra não fazer nada, só posando de herói.Já que falamos em herói, alguém, por favor, diga pra Salles que até o brasileiro Raduan Nassar já foi filmado por aqui – e por um cara que faz novelas (Luis Fernando Carvalho – Lavoura Arcaica 2001).
artigo a ser publicado, mas impublicável
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