carta do funcionário do Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, João Cabral de Melo Neto
ao Poeta Carlos Drummond de Andrade, então Vice-Consul de Gustavo Capanema.
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas avenidas
E outros não – fazeres
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores
Eu nunca suspeitaria
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras –
Funcionários, sem amor
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas,
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis
Túmulos para todos
Os tamanhos do meu corpo
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, essa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho
carta enviada em folhas timbradas pelo DASP
ao Poeta Carlos Drummond de Andrade, então Vice-Consul de Gustavo Capanema.
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas avenidas
E outros não – fazeres
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores
Eu nunca suspeitaria
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras –
Funcionários, sem amor
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas,
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis
Túmulos para todos
Os tamanhos do meu corpo
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, essa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho
carta enviada em folhas timbradas pelo DASP
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