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Uma vez Colônia, sempre Colônia

Pelé foi lá nos EUA difundir o futebol brasileiro. Este negro que queria ser branco, como ele mesmo dizia em sua época áurea em declarações à imprensa, quase que esperneava como uma criança – pelas criancinhas do mundo inteiro. Foi aí então que ele, ao microfone, gritou: Love, Love, Love, para os yankees gordos e mercenários. Nosso jogador de futebol negro virava um cachorrinho doido por dólares. Assim como Caetano Veloso hoje em dia (ele foi citado porque fez uma música chamada Love Love Love, a qual disse ser uma réplica ao texto feito em 68 por Roberto Schwarz em que faz uma crítica o Tropicalismo).

Ontem, no Fantástico, vimos o vocalista do U2 aparecer ao vivo pra platéia brasileira. E foi logo depois dos “Gols do Fantástico”. Bono Vox estava com aquele chapéu bastante sugestivo - texanos que o digam. Era um chapéu de vaqueiro, mais conhecido como Cowboy – Norte Americano. Ele deu toda a entrevista em inglês, idioma de eu país, a Irlanda. A música do grupo poderá ser ouvida hoje à noite, no Morumbi e na rede Globo de Televisão.

Mas U2 não causou tanto fulgor por aqui quanto os Rolling Stones, que fizeram um show para mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana, logo à frente do Copacabana Palace (a diária de lá é mais de US$ 1.000). Mick Jagger tem um filho com a brasileira bronca da rede tv, Luciana Gimenes – seu nome é Lucas. O cantor até falou algumas palavras em português, mais que o Bono, que veio depois e expôs a Rolling Stones como uma das mais influentes e importantes bandas de todos os tempos.

Mas Bono não falou só com o Fantástico. Ele passou por Brasília, e apertou a mão de nosso presidente Lula. Examinando melhor a situação, depois desse aperto de mão, nós tendemos a acreditar que a presença do U2 no Brasil nos dá aquela auto-estima que nos falta há séculos... que dirá a presença de Keith e Mick. Só que o Bono falou do samba – disse que sentia o samba e bateu com a mão na veia mostrando que gosta mesmo. O vocalista disse que o Brasil é um país musical, grande, tem muita sensibilidade. Uma fatia considerável de mercado, em outras palavras não tão aceitas por fãs malucos que acampam por dois dias na frente de onde eles estiverem.

É aí que entramos com um olhar um pouco mais cerrado pra banda. Mais cerrado ainda pra o tal do Cowboy desterritorializado. Bono adora cinema, comprou a farda de militar que Chaplin usou em “O Grande Ditador”, filme controverso. Este vocalista veio ao Brasil e não esperneou nada – falou mansinho, sussurrando no ouvido da classe média: “eu estou aqui pra abocanhar você, porque eu sou mais moderno, mais avançado. Eu vivo melhor que você – não quer ser igual a mim?”. Ele foi ao fantástico com a intenção clara de aparecer e dizer que nós podemos ser como eles – chamam isso de mecanismo de identificação.

Bono realmente é mais moderno que nós, matutos. Nós somos Jecas, e não Cowboys. A roupa dele demonstra isso tudo. O chapéu dele talvez o deixe perto da pós-modernidade, mas isso não importa. O que realmente importa é que nós, Colônia do bel prazer irlandês ou norte americano, somos uma potência do futebol. E temos um filho de Mick Jagger aqui... A china tem? A Índia? Tem nada... Tem mais: somos o país do futuro. Espere só, Bono Vox.

Está permitido rir agora.

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