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As estatuas paradas não fazem mal a ninguém que tenha medo delas. Afinal de contas, o medo é algo subjetivo – e fica relativo na medida que você se aproxima dele. Ele existe fora da gente, ele que nos faz mover para longe de lugares quentes demais, ou frios demais – ele que nos faz andar em linha reta.

Já acabei de falar na linha que seguimos via conclusão da vida; uma vida ambiciosa, que quer realmente passar sem parar por entre arames e pedras. No mais a concentração de forças se dá por uma meta. Meta contra o medo. Contra a sua vida trágica – sua vida de ser humano isolado do mundo. Porque eu te garanto você é isolado. E é mais ainda: é apartamentado.

Acho que é uma ilusão achar que se está fragmentado. Porque todas as suas possibilidades estão sendo canalizadas por vias que são absolutamente convergentes logo ali no futuro. São estradas que se coligam e vão até o fim da eleição – que acaba sempre nos votos a um só candidato. Não passa de um teatro mal feito de improvisações, mas têm muito poucos episódios. Quem sabe de que se faz essa sua divisão em partes que não se consegue medir?

Você, enfim, mora em um só lugar. Não consegue ter mais de um amante, e dificilmente trabalha em dois locais diferentes. Sem análises pessoais, aqui não se trata de uma sala arejada: diga pra mim, onde você está nesse momento? Acha que é porque você é inteligente e consegue ler mais que um período junto (nunca se enquadrou no grupo dos analfabetos funcionais do Brasil)? Não senhor(a). Você merece saber que de trinta pessoas que nascem como você nascem mais ou menos 27 que vão ter a sua mesma feição e composição de personagem. Mas, sendo que você, por agora, tem sabido ler na tela alguns parágrafos à mais que em livros.

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