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Oui...e agora?

Isso que é ser moderno. Andar dizendo que não se arrepende mas continua, olhando pra frente, se expondo como uma pessoa que atua perambulando nas ruas e exercendo sua força de trabalho para algum explorador. É isso, saber isso tudo e ainda sim andar nas calçadas de plástico, embriagados ou não ( isso não faz muita diferença quando todos são embriagados pelo poder, por exemplo). Andar floreando as ruas com olhares indiscretos para manequins vivas cheias de roupas como panos que as cobre menos pra segurar o calor humano que exibir que se tem o poder do dinheiro. E, além disso, saber que o dinheiro, já consolidado nas trocas e relações entre seres humanos que possuem bens a poder serem usados por outras pessoas. Sem correr muito, porque a gente vive na época mais avançada de todas as que já passaram. Seria como se estivéssemos na ponta do progresso, do desenvolvimento mundial e a completa dominação da natureza. Exatamente, uma natureza (interior ou exterior ao corpo) completamente presa aos conceitos práticos, que denominariam com nossos significantes rasos. Mas como se estivéssemos com um futuro no alto mar. Em alto mar não se vê sentido sem bússola. Veja só, a bússola não existe na natureza, não vemos linhas que indicam o norte e o sul no mar. Não vemos nada em uma circunferência. Só água. Pois, sem apoio dos materiais produzidos, então, não se avançaria. Resumindo: é uma dupla jornada rumo o prêmio do desenvolvimento e do progresso.


Moderno chega criticando o homem mais rico, também. O moderno é crítico da desigualdade de oportunidades e renda.Crítico dele mesmo, certas vezes, pra não cair no engodo de salários de cargos comissionados. Ele vive mais só, portanto aceita mais a crítica – não quer se exibir. Só vem a pós modernidade – e o tal do espetáculo é comemorado como a final cartada rumo a jornada às estrelas do progresso. Todos fiquem com isso, porque é o único norte que a bússola vem dando.

O pós moderno vem pra dizer, também: que bússola??? Veja o mar, tão grande... pra que nortear? Se não se chegasse a lugar algum, tudo bem, aceitaríamos essa revolta vanguardista. Mas será que se sabe se se chega ou não? Minha opinião é a de que não se sabe se chega, mas se inventa uma chegada. Os mais anarquistas percebem isso e querem mostrar pra todo mundo que é uma mentira esse negócio de chegar. Que não existe esse caminho, ele foi inventado pra que todos andassem nele para ganharem o costume de ser calmo e cidadão.

Mesmo quem lute por seus direitos, sabe que a desigualdade de castas ainda vai existir por um bom tempo. Será mesmo que esculhambando tudo como os pós modernos fazem se acredita então que não há mesmo saída? Bem... veja a minha saída pra essa dificuldade:

É como a existência de Deus. Sabe-se disso? Não. Não se sabe disso. Pode-se acreditar, e até comprovar a existência com algumas provas e argumentos lógicos. Mas ele nunca se mostra como um todo – é difícil dizer que alguém criador não tenha face. Não se tem certeza, então, nem da existência de Deus, nem de alguma saída. Fiquemos, por enquanto, a olhar pra o mar desabitado, o futuro sem dó: melancólico que ele só.

Se digo melancólico, é por falta de sentido. Mas no fundo todos possuem esse sentimento de que algo vai dar errado nesse futuro. Pois é. Todos sabem muito bem que algo vai dar errado. Entrem em pânico já de agora. Se eu pudesse eu ligava o alarme, mas como não tenho força pra isso tento dizer pra alguém que consiga ligá-lo. Ahh.... se ligassem.

Não, não é cisma de anarquista, nem um desejo de caos e morte. Compreendemos que algo vai dar errado? Então paremos pra pensar sobre isso. Garanto que quando o ser humano pára e pensa, algo sai dali. Nem que seja uma grande fuga. Certo - de vez em quando ele se submete às forças do resto do corpo.

Se qualquer enunciado, cheio de poderes ao seu lado, for mutável, mas além disso um caminhão de mudanças – que só pára quando chega à outra casa, e carrega todo o conteúdo de conotações. Então essa expressão que chamamos de enunciado é algo de um estado das coisas. Bem como o caminhão faz o país movimentar economicamente, o enunciado valoriza a comunicação como prática comum. Mais comum que tomar banho, certas vezes.

Comentários

tatiana hora disse…
que título engraçado!

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