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Amigos.
Teve um dia em que quatro jovens filhos de proletários ingleses reinventaram a música. Fizeram sua política espontaneamente, mas acabaram percebendo seu poder e se engajaram. John, mais propriamente. No dia 8 de setembro de 1980, John, então, foi assassinado por Marc Chapman, um admirador meio fanático que não gostava muito das idéias que o artista saia falando pela mídia.

Paul era o parceiro de músicas de John. Era um ótimo músico, com capacidade inventiva acima do normal. Era um trabalhador da música, um cara que realmente dava valor ao que fazia e era bem visto por isso. Fez certo dia uma música chamada Yesterday, que chegou a ser um hino melancólico popular em língua inglesa. Foi praticamente o administrador da banda The Beatles no fim da carreira dela.

A tal revolução que os Beatles fizeram devém de uma força da época. Eles, como artistas que inventaram o POP, estavam dizendo tanto para os grandes capitalistas da música quanto para os mais eruditos, também os mais desinteressados, que existia um modo de produção ainda não tão explorado. Uma revolução às avessas, a potência usada foi pra plastificar tudo o que viria mais tarde. Tirando algumas ironias à própria Beatles, que foi por exemplo a Ramones, ou Velvet underground, a música chegou ao patamar de produto consumível por poucos minutos - e depois você pode jogar no lixo. Quem percebeu isso tudo, mais uma vez, foi um dos criadores desse rótulo POP, Andy Warhol, que teorizou com sua arte esse conceito fundamental para a porcaria que vivemos hoje.

No passado, o POP até chegou a ser crítico de um tradicionalismo, ou de uma amarra às invenções e criatividade dos jovens revolucionários. Ou, como diria Pasolini, que se diziam revolucionários. No fundo foi uma massa de recém adultos percebendo que tinham que agir de alguma maneira, e criar empregos legais para eles próprios - escoar a produção artística e virtualizar o mundo. Foi então que apareceu John, o velho artista lírico desde Help (1964), que já dizia aos fãs que a crise da idade chegava, e que a juventude tinha que sacar que qualquer tpo de revolta deve ter um significado maior, histórico.

Ele, que um dia peitou Jesus Cristo e foi massacrado por isso - milhares de fãs fizeram atos públicos para queimar discos da sua banda... Ele que também já havia chamado a atenção para a diferença de classes, ou castas, da inglaterra, pedindo que os nobres chacoalhassem as jóias... Ele que perguntou mesmo se os jovens queriam a revolução, na música Revolution... E que se casou com Yoko Ono, artista plástica fora dos padrões estéticos ocidentais, e que indubitavelmente alegorizava uma aproximação afetiva de John pelo lado do Vietnã, o lado escandalizado pelos cidadãos mais "direitos" da redondeza (EUA, England). Ele chega e diz que não acredita em nada - só nele e em sua esposa.

Disse isso pra desmistificar os Beatles, pra se representar na mídia, pra se colocar como um possível salvador - um socialista rico, como ele mesmo dizia. Ele se inventou como um militante muito mais engajado que Bob Dylan, e um músico muito mais mundial que Paul. A "nova onda" demandava isso, e foi por isso que ele se aproximou de Frank Zappa. John não ia largar sua imagem no limbo da incerteza da mídia, não ia deixar ela fazer dele o que ela quisesse - como se ela tivesse esse querer - no fundo tem uma força estratégica, na qual os grandes pensadores são produtores, apresentadores e telespectadores da TV.

No seu primeiro Álbum, então, lança a música God. Deus. Ele iria mais tarde usar sua acidez pra falar de Paul, no Imagine, em How did you sleep. Mas em God ele ainda se questiona sobre os conceitos pops, e solta pra todos que o sonho acabou. The dream is over.

Que sonho seria esse? o sonho de milhões de pessoas que escutavam sua antiga banda dizendo que eles eram mesmo a ponta do iceberg do movimento hippie, ou do movimento psicodélico que saía dos jovens subversivos? ou talvez o sonho do conceito POP. o sonho que a mídia acabou absorvendo, e deixou de lado todo o cinismo de expressões que visavam uma distribuição do poder mais efetiva - anti-hipócrita. Isso soou infantil, mas por falta de jeito eu deixo porque a idéia é essa mesmo.

John Lennon não foi George Harrison, o religioso. Ele foi o maluco que agora ditaria que na mídia a maneira de se comunicar deveria ser aquela - a crítica. John chegou a xingar, como Bob Dylan não se atrevia. E olha que esse artista com nome falso era ácido ao extremo. Deve-se levar em conta que John era um poeta muito próximo do que a europa fazia, aos movimentos que por lá surgiam. Na música mais estranha de todos os tempos para alguns, I am the Warlus, ele mistura desde o coronel Mao até a polícia que chegava com as sirenes (que se ouve na música com a orquestra mimetizando) pra deser o sarrafo nos grevistas e jovens nas ruas. O surreal de John era muito real - ele sabia que a arte servia pra criar não só imagens, mas conhecimento, e com isso era mais um instrumento de ação dentro da sociedade. Por isso não mitificava o que não servia - John foi um dos primeiros Yuppies com consciência disso. Um casado, que se mostrava nu com sua esposa na cama de casal, em clipes musicais.





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