Não é que a arte moderna não fale nada, ou apenas queira o nada, ou talvez não queira contar acontecimentos. Perceba, quando uma história moderna é contada, algo de fora quer ser chamado naquele momento em que o contador e o ouvinte estão dialogando (um falando e outro esperando). Enquanto o narrador fala, fala, fala, fala, fala, o espectador ouve, ouve, ouve, e perde a atenção de vez em quando. O problema talvez seja essa atenção dispendida, e massacrada, durante a modernidade. Se você que gosta de obras clássicas, vê um Picasso acaba não só xingando, como dizendo que é uma falta de respeito comprarem um quadro dele por milhões de US$. Justamente, exatamente, essa era uma das intenções, e o espectador entendeu sem saber. O envólucro da obra vem com ela - esse é o mundo no qual ela foi feita, como um arranhão, por exemplo, na tela que fica pra sempre. Esse arranhão é a falta de compreensão do mundo, a dificuldade em se estabelecer um dispositivo que deixe todos à parte do que "acontece", e o didatismo tenha então sua utilidade. Não. No mundo moderno não há razão na utilidade, a não ser na esfera do consumismo.
E quem gosta de ser chamado de consumidor a vida inteira?
E quem gosta de ser chamado de consumidor a vida inteira?
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