Pular para o conteúdo principal

La ilusion viaja en tranvia - Luís Buñuel - 1953

O surrealismo no cinema não é acrescentado. Tá na figura dos planos- é inerente. Não adianta então dizer que Buñuel era um "cineasta surrealista", a não ser numa tentativa de colocar os seus filmes dentro de uma gênero a ser digerido. David Linch, George Lucas também lidam com o onírico e o absurdo em seus filmes, nem por isso ninguém os chama de surrealistas. Talvez de experimentais.

O caso do diretor comunista espanhol é mais grave que qualquer experimentação. Seu primeiro curta com Salvador Dali é initeligível, e por isso fascinante. Quando ele sai exilado de seu país e conhece o México, aí sim temos contato com um cinema que influenciaria todo o mundo com suas peripécias. Na sua fase mexicana, Buñuel entra no funcionamento industrial da criação de planos de filmagens, mas nem por isso deixa as faíscas do inconsciente serem tolhidas.

A ilusão viaja de trem vemos todo o filme como algo absolutamente absurdo - aquilo não acontece, não haveria como acontecer. No entanto, é mais do que convincente, porque são essas coisas imposíveis que nos dão a prova da realidade. Spielberg usa muito desse artifício "surrealista", pois, como já foi dito, é algo próprio do cinema.

Mas Buñuel como um revolucionário não podia deixar de lado nesse universo onírico criado a relação entre os patrões e os operários. Se percebemos mais afundo, esse tema de dominantes e dominados está em todos os seus filmes. Ao lado de uma ironia que chega ao seu máximo permitido no cinema - e talvez ele seja o primeiro a saber, ou a delimitar essa linha limite. Hitchcock, por exemplo, deve muito ao espanhol.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Don't Look Up - Não olhe pra cima (2021)

Quem não gostou do filme, em particular da história do filme - do enredo -, é um negacionista. Disso não resta mais nenhuma dúvida. Mas, qual será a ordem desse negacionismo que nos cerca? Esse Bolsonaro-trumpismo influente e tão ameaçador que faria, nessa historinha de filme cômico, as democracias e os próprios democratas (se é que há democratas reais no filme) aderirem ao fim do mundo? Sim, se você não percebeu ainda, os negacionistas pretendem o fim do mundo. Seja de um mundo esférico, por uma defesa do mundo plano, seja de um mundo pleno (com E) e vivido pelas multiplicidades de pessoas diferentes. Esses negacionistas que nos atordoam a toda hora na internet, e que um dia foram chamados de HATERS, hoje estão nas famílias mais democráticas de nossas Américas, são negadores tal como aquela negatividade hegeliana que se travestiu ao longo dos tempos com a terminologia "crítica". Está, portanto, aberta a porta dos infernos, a chamada caixa de Pandora, um baú da infelicidade, ...

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

A Última Floresta - Luis Bolognesi e Davi Kopenawa

A imersão de Bolognesi nos temas indígenas, em seus últimos filmes, demonstra que quando o cinema dá atenção a isso, algo se revela. Parece ser um caminho sem volta. Uma estrada sem fim. Mostrar, em imagem, os temas indígenas, tem força de revelação, sim - mas também de reativação com discussões antigas. O que faz aquele que se chama de "indígena" um caso particular. Não se fala de uma humanidade, de um humanismo nos termos que antes das colonizações de falou. Estamos diante de uma questão, um dia chamada "indígena". Estamos diante, portanto, de algumas questões que envolvem afetos e sentimentos que nos forjam como pessoas ligadas ao subjetivo indiretamente violentado e assassinado pelo contato interétnico das interiorizações do país. Davi Kopenawa tem sido um dos maiores lutadores, desde os conflitos com garimpeiros nos tempos de Serra Pelada, e também, como não dizer, na briga que ainda se vale de gritos e falsas informações sobre as terras yanomami entre Roraima ...