
Mas é certo que Sofia, neste filme, mostra que possui já um certo domínio do que está fazendo, e pronta pra filmes blockbusters de qualquer espécie ou gênero. Como talvez a primeira cineasta mulher que chegue a ter um nome reconhecido mundialmente nessa indústria, ela prova seu senso estético bem apurado. Isso porque apesar dos fru-frus, do exagêro da corte de Luís XV, vemos como essa volta ao passado é algo extremamente forçado por uma brincadeira estética atual, no discurso de Maria Antonieta. É, já, um pé fora da imposição da arte industrial pós-moderna que junta um futurismo com um passadismo épico (vide filmes como Guerra nas Estrelas, Blade Runner, Matrix). E não é um filme que quer ser criterioso ao extremo com os fatos e entrelinhas do passado.
No universo aristocrático de Maria Antonieta percebemos ainda, com o anacronismo das músicas, como o filme sobre o passado é feito no presente. Inevitável não perceber isso, a não ser que se esconda - e é assim que sempre vemos em filmes sobre o passado histórico. Esse anacronismo nos distancia do universo do filme, a história, e nos coloca no presente, lugar de uma aristocracia da moda.
Essa moda é a indústria mais abrangente de todas, e lida com uma cultura não mais vilaresca, setorializada, mas global, mundial. A indústria da moda é o triunfo da indústria cultural. Como o underground americano, de onde vem grande parte da influência de Sofia Coppola, não aceita essa indústria... O filme é quase punk. Pós-punk, na verdade. Desde a musa do rock n' roll Marianne Faithfull como mãe de Antonieta, às músicas de Siouxsie, Gang of Four. O clima é do underground, mas o filme não é - definitivamente.
É a herança que recebe Sofia, Tarantino, Wes Anderson e os Cohen diretores jovens atuais. O underground tentou tomar a mídia como o povo da França tomou o poder na revolução. Mas, uma pena isso: ele ainda se deslumbra com tanta magia que existe nas instituições.
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