Em português o filme teve o título de Mouchette - A virgem possuída. Não só foi absurdo acrescentar esse subtítulo, como foi criminoso. O filme é uma tragédia das mais contemporâneas, não só por usar uma personagem feminina sem perspectivas, completamente impotente. Não só também por Mouchette fazer parte de uma família de campesinos e por sofrer com a modernização e seu desencantamento. O filme também é um derramamento de ascetismo com lirismo romantizado, mas com forte formalismo que se mostra como filme.
Bresson era religioso, sim. O mundo seria um fardo. E quem evidencia essa miséria do mundo? Os marginalizados. Mouchette é uma virgem, como Maria, que é sacrificada pela sociedade onde vive. Não lembro de cena tão forte no cinema quanto a dessa pequena virgem cuidando de sua mãe doente e de seu irmãozinho em uma casa de um só cômodo. Ou dela tentando ajudar a todos que encontra - rejeitando apenas a ostentação da riqueza de meninas.
Mouchette pode ser visto e compreendido hoje... coisa difícil, ainda mais pra os filmes de Bresson. Um ano antes das manifestações e greves estudantis na França Mouchette aparecia como mais uma obra mais do que única - um cinema que é realmente cinema. Nada de teatro, nada de dança, nada de música, nada de literatura.
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