Pular para o conteúdo principal

Spike Jonze e Sofia Coppola - casados, e juntos na esquisitice indie

Mas que tipo de cinema esquisito é esse - diz um mais alerta a respeito do que se vê em Jonze. Mas que tipo de cinema é esse tão parecido com publicidade, dizem os mais atentos. O problema em se categorizar hoje o cinema feito pelos mais independentes nos Estados Unidos é que não há fruição solta espectatorial que consiga abarcar qualquer tipo de alucinação enquadrada. Enquadra-se não só na janela do audiovisual, mas na janela da percepção cultural do mundo, perfeitamente moldada e esquematizada pelo cinema da América do Norte.

Agora, temos que concordar que esse laço pop é mais europeu - mais convincetemente revolucionário e sujo, como algo que saía da França de 68, 69, 70... A subversão completa já passou, mas seus resquícios ficam, por exemplo, na família Coppola, ou na ousadia do wierd Jonze. Óbvio que damos créditos ao roteiro de Kaufman (que tem nome de Vertov), mas as escolhas e os cenários de Jonze são surreais ao extremo convincente. Aquele surrealismo que um dia chegou ao incinsciente e a seu fluxo desembestado, hoje, sem sinceridade alguma, adapta-se à cultura do pensamento aburguesado e kitsch - o da paródia pós-moderna.

Estamos diante de um impasse que chega a ser mais que conceitual, saindo de qualquer pensamento a respeito do cinema, ou de qualquer linguagem audiovisual. A pergunta: como dizer o cinema da juventude norte-americana? Wes Anderson, Spike Jonze, Tim Burton (que já sai dessa juventude pra o rol de clássico pós-moderno), Sofia Coppola, Paul Thomas Anderson, etc. Temos um movimento atual e que, nas críticas, fica mais na impressão, numa espécie de vanguarda fora de hora, dentro do mercado globalizado e mundial, de multinacionais e exibições para milhões de pessoas. A fruição, no entanto, continua a mesma.

Aqui fica a angústia de se saber o que anda a passar com o cinema em geral que nos domina.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memória, de Apichatpong Weeraserhakul

  Uma coisa é certa em filmes de Apichatpong: você não se vê no tempo unicamente cronológico. Esse tempo-outro, mais relatado pela indistinção entre o que chamamos de passado, presente ou futuro, nos coloca em um questionamento direto sobre nossa presença no mundo atual. Memória, seu novo tratado (insisto em não chamar apenas de filme uma tese contínua), procura nos evidenciar aquela indistinção. Mas o tempo indistinto, na memória de uma colonizadora - vivida por Tilda Swinton -, mente o tempo todo. Se realiza na ficção, numa espécie de loucura. Por que isso se mostra dessa maneira? Provavelmente porque a racionalidade, o “colocar tudo nos eixos” é alguma coisa muito pouco elucidativa. Esse uso do racional para mostrar o que queremos, ou o que parece ser o “real” já se encontra há muito tempo em crise. Na memória, nós vemos uma profunda escavação arqueológica. Ela nos coloca em questão, como pessoas viventes em uma narração ocidental. Essa memória é capaz de unir a Tailândia com a ...

Guerra Conjugal - Joaquim Pedro de Andrade - 1975

Joaquim Pedro teve sempre que ser muito tímido para que sua imposição artística não tivesse presença autoral , como no amigo que ele sempre admirou, Glauber. Em uma comédia de costumes da classe média brasileira, só reatando as pazes com Nelson Rodrigues, mas ao jeito de Dalton Trevisan - exagerando no pessimismo, domesticando os planos em uma falta de sincronia entre o mundo velho e o mundo novo. Não só Joaquim Pedro seguiu, trilhou, abriu esse caminho no cinema novo, mas principalmente Arnaldo Jabôr, onde o drama de costumes chegou a seu ápice em uma agudez sátira. A briga é com o uso do melodrama com fins absolutos de mercado, e com o sentimento carioca meio bobo, de que há romantismo de folhetim em vida. O brega forte desse popular exagerado demonstra o que o avanço econômico nos proporciona, na mídia. Nesse ambiente de cultura de massa dominante surge o filme Guerra Conjugal, de Joaquim Pedro. A mediocridade e decadência chegam a doer de tanta verossimilhança, nesse filme. É um re...

Don't Look Up - Não olhe pra cima (2021)

Quem não gostou do filme, em particular da história do filme - do enredo -, é um negacionista. Disso não resta mais nenhuma dúvida. Mas, qual será a ordem desse negacionismo que nos cerca? Esse Bolsonaro-trumpismo influente e tão ameaçador que faria, nessa historinha de filme cômico, as democracias e os próprios democratas (se é que há democratas reais no filme) aderirem ao fim do mundo? Sim, se você não percebeu ainda, os negacionistas pretendem o fim do mundo. Seja de um mundo esférico, por uma defesa do mundo plano, seja de um mundo pleno (com E) e vivido pelas multiplicidades de pessoas diferentes. Esses negacionistas que nos atordoam a toda hora na internet, e que um dia foram chamados de HATERS, hoje estão nas famílias mais democráticas de nossas Américas, são negadores tal como aquela negatividade hegeliana que se travestiu ao longo dos tempos com a terminologia "crítica". Está, portanto, aberta a porta dos infernos, a chamada caixa de Pandora, um baú da infelicidade, ...