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Nada de revolução

 

A surpresa do milênio está nas novas pessoas que querem revolucionar o mundo radicalmente sem sair de suas casas – apenas pela internet. Esse blog surge nessa ilusão de que, mais do que nunca, a revolução acontece a cada segundo, a cada instante, sem que possamos saber ou ver o que anda acontecendo. A revolução não é mais uma revolução.

O caso é o da internet – a fenomenologia posta em prática, daquela consciência que anda fora do sujeito. É o da realidade virtual. O da falta de realidade, ausência de fatos, mas abundância de virtualidades virtuosas – virtudes inventadas. Nessa masturbação yuppie, a burguesia anda feliz em um vício que prejudica os olhos, mas nem tanto o pensamento, seja lá o que isso hoje venha a ser.

Peguemos o termo revolução, este que anda nas bocas da juventude desde 68, e invertamos seu sentido, na base de um radicalismo, agora, extremamente virtual e falso. O que há nesse termo é uma profunda reacionarice, de imenso tamanho para os dias eternos – ao falar em revolução, sem perspectiva da mesma, seu sentido se esvai para aquele lugar das publicidades de calça Lee.

 A internet, seja lá o que ela venha a ser também, é o lugar dos advetirsments, das donations, e da nova economia que se transforma a cada momento, instante. Isso que nem Lênin, e muito menos Marx poderiam perceber ou prever – o virtual publicitário, na sua força econômica, subverteria qualquer mente ou força produtiva realmente revolucionária numa produção extremamente calma, pacífica e moderna – burguesa e futurista, algo de extremamente moderno.

O pensamento radical então rola como pedra na montanha – like a Rolling Stone. Essa língua pop da publicidade fagocita, virtualmente, as forças contra a virtualização, a falsidade. Ou seja – estamos num caminho sem volta dos sofismas gregos, e das “burrices” como robinsonadas econômicas (agora também culturais) brasileiras. A onda conservadora está além de Bertolucci, ou de uma marca Gucci. Ela está aqui, nestas palavras, e na sua leitura. Ela está além da hegemonia de classes - está nas almas mortas, e nas almas que morrem por aí.

O que fazer então? Fugir dessa onda como? Onde obter a resposta da prática revolucionária nesse mundo virtual recém criado? Seria no coágulo entre a esquerda e direita tão comumente praticada hoje em dia? Talvez (na fuga da luta de classes). Assim o termo revolução se transforma em trans-formação. E é assim que o mundo se transforma devagar, e o Brasil continua como um país extremamente inculto, atrasado, subdesenvolvido e explorado. Afinal de contas, como pós-coloniais, nós somos fracos em pensamento , ainda que não sejamos em cultura.

Nada de revolução por esses tempos – sim, você que anda financiando o petróleo e o conforto em carros pelas autovias pós-modernas. Nada de revolução também, se ainda há novelas e notícias que privilegiam a forte burguesia. Nada de revolução limpa, e nada de revolução clean. Nada de revolução nas Américas, afinal la revolución é diferente de pequenas insurreições desmedidas e anárquicas, e é extremamente européia. Nada de revolução nas bocas da pequena burguesia, em suma.

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