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Modernidade em transe

Qual é a principal diferença entre a narrativa clássica e a moderna?

Seria, realmente, importante discutir isso? 

No Brasil, um país, ou uma coisa parecida com um país, a modernidade é um motivo?

e na sua casa, ela é importante?

O que aparenta ao se assistir a noticiários na TV brasileira é a falta de compromisso com um motivo maior, senão o avanço e o progresso dos lares brasileiros - seja esse noticiário da Rede Record, ou da Rede Globo. Duas emissoras que, também na aparência, seriam opostas em filosofia e religião. Uma é protestante radical, a outra é católica não praticante.

A suposição de um avanço, seja ele protestante ou católico, é latente e manifesto. E é norteador de qualquer família liberal no país. Por exemplo, a falta de profundidade em qualquer informação que é passada nos jornais das emissoras. Com clichés do tipo mais chulo que qualquer engravatado tradicional que frequenta instituições jurídicas tenta imitar e prosseguir difundindo; com imagens em close dos(das) entrevistados(as) e dos (das) repórteres; com o quadro clássico, inversamente proporcional à busca do futuro. Essa formação é a manifestação mais evidente de uma pós-modernidade que consegue juntar um passado inventado em tons épicos e monumentais a um futuro modernizante.

Se há uma oferta de imagens do modo de vida, ou de costumes, a TV brasileira é o estandarte desse mercado simbólico. Não se nega isso, mas tentam esconder debaixo dos panos de mesa de jantar. Interessante é ver essa mesma mesa aterrorizada com a violência de Skinheads paulistas, de trotes da classe média vestibulanda, de jovens que entram armados em escolas de segundo grau e de casais recém casados que jogam filhas pela janela - quando não se vê imagens de uma violência de grupos, ou insurreições camponesas contra a propriedade de latifundiários ou a boa vida de políticos em Brasília. A falsidade das imagens no quadrado movente, eletrodoméstico que puxa os olhares da família, é a mesma da realidade conturbada por drogas e tráficantes armados como guerrilheiros em morros da cidade do Rio de Janeiro.

"Que bom que existe o carnaval nesse país", pra vermos tanta gente bonita desfilando nas avenidas em capitais... mas em contrapartida há o balanço de mortos pelas infrações cometidas por motoristas bêbados em estradas, aqueles que ficam presos em engarrafamentos quilométricos, e as decepções de uma crise econômica mundial que, de alguma maneira sutil, conturba pais de família empresários.

E há os casos graves que ficam em filas nos hospitais públicos, à espera de atendimento. "Uma falta de vergonha".

Que tipo de estruturas estão sendo criadas nesse capitalismo moderno imposto verticalmente a uma sociedade extremamente atrasada como a brasileira, senão aquelas que exploram a maioria da população em sua energia de trabalho em um desenvolvimento enganador - não paradoxal, mas sim contraditório. Essa particularidade da TV precisa de atenção maior de qualquer pessoa que se veja enganada pelas imagens de modelos para a sociedade - os âncoras e repórteres bem vestidos e ricos.


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