Há formas de se olhar o outro em narrativas. São os focos
narrativos, pontos de vista, linhas condutivas através de personagens que
encaram o, afinal, desconhecido da aventura, do enredo. Foi assim com aquelas grandes bilheterias da
maestria de grandes massas conduzidas pelo olhar curioso, assustado. Alien, de
Ridley Scott fez o mundo acordar para seres evoluídos, superiores, que nos
consomem por dentro. Nascem, aliás, de nós mesmos. O “outro” que nos habita.
No Brasil, terra bastante desconhecida, a regra é essa
também. Explorar o oeste, tal como no gênero (também de grandes massas) foi a
ordem de um elementar discurso oficial. Temos que nos conhecer por dentro,
diria o positivista republicano, fragmento de um déspota esclarecido como D.
Pedro II, intelectual do romantismo. Os não lugares então, aqui, estão no
profundo interior da floresta.
Xingu retoma a encenação deste interior do Brasil Grande.
Paulo César Peréio entende bem dessa linguagem provocadora, que incita o índio
a perceber o poder da câmera de cinema. Essa mesma câmera que os afeta, é a que
pode também liberar o kairon, seu espírito que seria-nos familiar em vários
aspectos.
Infelizmente o índio ainda é um fantasma para o “Brasil
Grande”. Melhor, é um alien. Aquela
mesma situação de perplexidade diante da família nômade em Corumbiara, de
Vincent Carelli. Ou da incompreensão de um ponto de vista fortemente marcado
pelo desconhecimento de nosso próprio progresso (ordem), em Serras da Desordem,
de Andrea Tonacci.
Estamos desconhecendo o primitivo, algo que colocamos no lugar
do passado, em detrimento de um futuro extremamente delirante. No futuro,
enfim, os índios atuam diante de uma câmera de alta tecnologia sem deixar
transparecer a dificuldade que existe entre dramaturgia e o encargo que é
objetivar o filme de ficção.
No futuro, não há índios que desconheçam a civilização.
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