título de um texto de Charles Bukowski - texto humildemente dedicado a ele.
I
Era como carregar 12 quilos de carne por
Ah, sim , lá tudo corre bem. Posso xingar o Ronaldo, o galo que insiste em cantar às 3h da manhã, sem que eu me sinta mal ao xingar. Ou até mesmo amaldiçoar o mundo, sem que um fiscal dos bons costumes queira me bater. Lá tem verde também, e isso é bom até pra os mais retardados. Que dirá pra os que não sabem se são.
Fiquei por uns 30 anos.
II
Não estava sozinho – nem tinha família.
III
Sem tecnologias amarelas pelo tempo, nem barulhos irreconhecíveis das máquinas. Um dia nós ouvimos estrondos, ruídos. Lá longe. Bombas. Esqueci que existiam estrondos, que existia o belo avião passando por cima do campo, que um dia eu ouvia os fogos de São João.
IV
Voltei pra cidade por curiosidade e vi tudo como num filme neo-realista italiano – um novo pós guerra. Até tinha pensado como ficariam os shoppings depois disso, fui diretamente pra um mais próximo. Era sim, mais ou menos como eu tinha pensado – tudo da maneira que deus sempre quis, tudo dos homens. Só que não tenham mais tantos homens, além dos machucados e malucos. Não sobrou a sanidade pragmática, nem as máquinas pra gente imitar de novo. Eu ainda lembrava de minha imaginação cosmopolita, e a revolta dos homens que sobraram, inteira, se voltava agora sobre ela.
V
Shoppings ao ar livre, sem teto. Lojas sem roupas. Gente sem roupas. O sol mais forte. Pouca gente nas ruas. E, ao contrário do que acontecia no passado, ninguém queria reconstruir o que era agora ruínas. Foi aí então que resolvi voltar pra cidade, e tentar agir nesses escombros. Tudo o que eu não queria quando saí. Justamente o contrário do que acreditavam meus princípios...
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